Ir á praia de manhã cedo ou á tardinha não só ajuda a evitar os danos provocados à pele pelos raios solares, mas também pode proporcionar uma visão interessante: é nesses horários que os bichinhos que vivem nas praias resolvem sair da areia para passear pela orla marítima. Crustáceos como o Siri branco (arenaeus cribarius), as duas espécies de corrupto (Neocallichirus mirim e Callichirus major) e de tatuí (Lepídopa richmondi e Emerita brasiliensis) , o tatuzinho (Excirolana armata), e os moluscos Sernambi (Donax hanleyanus) e Olivancilaria (Olivancillaria vesica) são alguns exemplos.
Estas são as espécies mais freqüentes nas praias do Norte Fluminense, como Iquipari, Grussaí, Atafona e Açu, afirma o biólogo Ronaldo Novelli, amigo de André Pinto, dono deste blog.
À primeira vista, a vida nessas condições – tendo que suportar as altas temperaturas do verão e a força da arrebentação das águas – parece difícil. Mas a natureza se encarregou de dotar esses animaizinhos dos aparatos necessários para a sobrevivência neste tipo de ambiente.
Professor Novelli observa que as cores claras destes animais ajudam a refletir a luz do sol, diminuindo a retenção de calor e, consequentemente, permitindo que estas espécies possam se adaptar naturalmente às grandes oscilações térmicas. Outro dado curioso: os animais da praia, em geral, têm a capacidade de se enterrarem na areia rapidamente, escapando, assim, do impacto direto das ondas do mar.
_ Em geral, os organismos possuem a forma do corpo ovóide, apresentando, frequentemente, modificações nos apêndices locomotores. É o caso, por exemplo, do tatuí, que possui o dáctilo (espécie de dedo com unhas para cavar) das patas do tórax em forma de foice, o que minimiza os gastos de energia na atividade de escavação – explica o amigo professor Novelli.
Também não há o perigo da areia sufocá-los. Como explica o professor Novelli, muitas espécies apresentam cerdas e antenas, que selecionam o material em suspensão e impedem o entupimento dos seus aparatos respiratórios. Os Sernambi, por exemplo, é comum a presença de digitações na abertura do sifão inalante – que leva a água com oxigênio até as brânquias – as quais impedem a entrada do sedimento mais grosseiro em seu organismo.
Além disso, crustáceos e moluscos da praia costumam migrar para áreas mais fundas quando se sentem ameaçados, seja para sair da zona destrutiva das ondas, da turbulência excessiva, da ação de predadores ou, ainda, para manter as populações em locais com condições ótimas de disponibilidade de alimento.
O tatuí e o Sernambi normalmente se localizam a uma profundidade inferior a 8 cm, na zona de espraiamento (onde existe permanente fluxo de água). Já o tatuzinho prefere ficar mais acima, nas áreas denominadas supra (acima da marca média da maré alta) e meso-litoral (zona alcançada por todas as marés). Os primeiros se alimentam de algas microscópicas, enquanto o tatuzinho come qualquer matéria orgânica em decomposição encontrada na praia. Seus predadores mais comuns são o Siri branco, o Caranguejo Maria Farinha e a ave marinha Batuíra-de-Coleira.
André Pinto analisa um filhotinho de caranguejo Uçá-mirim no Pontal de AtafonaAndré Pinto verifica uma Maria Farinha (espera maré) no Balneário de Atafona
Eloína Gomes Pinto, filha do ambientalista André Pinto, tem aula de educação ambiental na praia de Atafona.
André Pinto com José Carlos (angolano) verificando uma espécie de molusco encontrado na praia de Atafona.
Fonte: Ronaldo Novelli – Monitor Campista 01/01/2004. Adaptação do texto e imagens: André Pinto