BANHO DE RIO
Hoje, quando vou a Atafona e atravesso o rio Paraíba do Sul, quase a pé, sinto saudades de como ele era na minha infância, caudaloso, cheio de perigos e de várias histórias a respeito de suas águas.
Havia certo lugar do Paraíba, perto de sua foz, que jamais ousava aproximar, pois as lendas que ouvia a seu respeito eram de arrepiar os cabelos. Dentre elas, contavam que certa vez havia ali, desaparecida uma família inteira. Esse lugar era o TRAPICHE, mas o local ribeirinho, preferido pela garotada de minha época, era denominado de piscina que, à primeira vista, parecia perigosa, pois a água naquele lugar se movimentava com aspecto agressivo, mas nós, usuários, sabíamos que o local não oferecia perigo. Nessa piscina, passei a maior parte de minha infância, pois arranjava vários motivos para ir ao banho de rio: era após ter jogado uma "pelada", era na hora de lavar os cavalos, era antes de esperar a chegada do trem, era nas horas de pescarias...
Um dos maiores vexames que passei em minha vida infantil foi num desses banhos de rio, na piscina. Meu horário preferido, de banhar-me no rio era à tarde, quando o sol ia se escondendo no Trapiche, deixando o céu todo alaranjado, a meditar minhas preocupações infantis, sem coragem de abandonar aquela "camuflagem" para enfrentar o vento nordeste que assolava Atafona.
Certo dia, ao sair da minha "camuflagem" líquida, corri para vestir a roupa, mas não a encontrei. E entrei em pânico sem saber o que fazer, sem saber como sair daquela situação. Xingava todos os garotos pertencentes à minha turma, pois calculava tratar-se de um deles: "aposto que foi aquele 'viado' do João"; "ou, então, aquele filho de uma cadela do Reinaldo", e assim, num desabafo incontido, "louvei" todos, ou quase todos de meu grupo.
O único jeito que encontrei para safar-me daquela situação foi valer-me de duas "touceiras" de jibóia (vegetação que bóia nas águas do Paraíba) e colocá-las uma na frente, outra atrás e caminhar até minha casa sob os olhares e as gozações dos curiosos. Deste dia em diante, nunca mais tomei banho de rio nu, a não ser depois de adulto.
Texto extraído do livro "Memórias da Minha Infância" de Paulo Nunes Alves.
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