sexta-feira, 13 de maio de 2011

DOIS GRANDES TRAFICANTES DE ESCRAVOS NO NORTE FLUMINENSE, ERAM DE SÃO JOÃO DA BARRA

ANDRE GONÇALVES DA GRAÇA

Sobrado senhorial de Andre Gonçalves da Graça, um dos maiores traficantes de escravos do Norte Fluminense.

O comendador Andre Gonçalves da Graça, proprietário da extensa fazenda São Pedro, em Manguinhos, hoje município de São Francisco do Itabapoana (à época território de São João da Barra), foi, indiscutivelmente, o maior dos traficantes radicados no Norte Fluminense. Superara até mesmo, nesse horroroso comércio, seu patrício, o comendador Joaquim Thomaz de Faria, também grande latifundiário naquele município.

Português de nascimento, Andre da Graça enriqueceu com o tráfico, tornando-se poderoso e influente na região. Abastecia de escravos os ávidos fazendeiros e senhores de engenhos de Campos, São Fidelis e proximidades, bem como os que o procuravam, vindos de Minas ou de outros lugares distantes.

Era conhecidíssimo, a ponto de ter sido chamado, num documento oficial sobre o tráfico, datado de 15 de março de 1856, de "famigerado africanista". Em outros documentos, ora o nomeiam equivocadamente como Andre Antônio da Graça, ora como Andre Alves da Graça.

Em 1847, terminou a construção, mercê de sua fabulosa fortuna, do mais imponente sobradão senhorial de São João da Barra, onde hoje está instalado o Fórum local. Ali, recebeu e hospedou D. Pedro II, em abril daquele ano. Situado na rua São Benedito, esquina com a Rua do Sacramento, na sacada de ferro desse prédio o observador mais atento poderá identificar, em letras grandes, em meio a belos desenhos entrelaçados, suas iniciais "AGG".

Relacionava-se intimamente Andre da Graça com as autoridades locais, bem como o vice-cônsul português em São João da Barra, Sr. Manoel Pinto da Costa, em cujo testamento, lacrado em 8 de maio de 1865, há essa inexplicável observação:

"Declaro que nada devo ao Comendador Andre Gonçalves da Graça, visto ter espalhado o boato de que a elle devia quarenta contos..."

Em 1852, em pleno auge do tráfico clandestino, foi eleito vice-presidente da Câmara Municipal de São João da Barra, para a qual também seria votado em 1864. Possuía em 1851, só na fazenda São Pedro, 80 escravos trabalhando em seu engenho de açúcar e nas atividades agrícolas.

Alguns de seus escravos, principalmente os recém-chegados da África, permaneciam pouco tempo na fazenda, onde eram adestrados na língua, nos usos e nos trabalhos agrícolas por antigos cativos, sendo em seguida vendidos. Outros, entretanto, rebelavam-se contra as atrocidades da escravidão, refugiando-se nos pequenos quilombos que aos poucos iam surgindo nas matas do sertão sanjoanense.

Casa da Câmara e Cadeia de São João da Barra (restaurada em 2011 pela Prefeita  Carla Machado),  local de prisão de um dos escravos de Andre Gonçalves da Graça. Crédito da foto: Andre Pinto.
É esclarecedor esse anúncio que, sobre a fuga de um escravo, Andre Gonçalves da Graça publicou em 13 de fevereiro de 1862, no Monitor Campista::

"Anúncio - R$300.000 - Fugiu a andre Gonçalves da Graça, no dia 08 de janeiro do anno corrente, um seu escravo, de nome Antônio Felix, de nação Mucumbe, cor um tanto fula, estatura regular, mal feito de corpo... Este escravo há pouco tempo foi tirado da cadêa desta cidade, vindo de Itabapoana, por andar fugido por aquelles arredores, dez meses. Dá-se a quantia acima a quem levá-lo nas fazendas de S. Pedro de Alcântara ou Cobiça, ao Sr. João Pinto de Almeida n`esta cidade ou aos Sr. Antônio josé da Costa Marreca, em Campos"...

JOAQUIM THOMAZ DE FARIA

Trapiche de Joaquim Thomaz de Faria, em Atafona, construído por escravos.

O comendador Joaquim Thomaz de Faria, também grande traficante, residia na barra de Atafona e possuiu, no sertão de São João da Barra, as fazendas Sant`ana, do Campo Alegre e da Floresta, servidas em seus engenhos em 1851, por 250 escravos, onde exerceu diversos cargos e funções na vida administrativa sanjoanense, sabendo-se que foi delegado de polícia em 1832, patrão-mor do porto em 1839 e presidente da Câmara Municipal em 1844. Um dos trapiches existentes na foz do Rio Paraíba do Sul, era também, de sua propriedade.

Pontal de Atafona (hoje totalmente ocupado), local de residência do Comendador Joaquim Thomaz de Faria, onde também exercia a função de patrão-mor do porto. Foto extraída da internet.

Católico fervoroso, construiu em 1847, por conta própria, a igreja da Boa Morte, em São João da Barra, de cujas irmandades religiosas participava, além de haver aberto com recursos pessoais, estradas no interior do município.

Foi casado com D. Francisca Barreto de Jesus Faria, que igualmente religiosa como ele, doou, em 9 de janeiro de 1857, uma área de terras para a construção da igreja da Penha, em Atafona. Seu filho único morreu em tenra idade.


Fonte: Oscar, João. Escravidão e Engenhos, Editora Achiamé, 1985.

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