O Blog de Andre Pinto vai trazer uma série de reportagens nesta semana em que se comemora a abolição da escravatura no Brasil. Entre as reportagens, Andre vai mostrar ainda, algumas cópias de documentos extraídos das pesquisas de seu saudoso pai, o escritor João Oscar, jamais publicados em suas obras. São cópias de documentos que mencionam ordens de construção de forcas em plena sede de São João da Barra para a execução de escravos, bem como documentos fiscais da Casa da Câmara que referendavam as vendas e transferências de escravos feitas em território sanjoanense e outros documentos. Para começar, o blog traz uma matéria já veiculada neste site em 2009 e que merece ser lembrada, por tamanha curiosidade e audácia.
HISTÓRIAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS E CORRUPÇÃO NA VILA DE SÃO JOÃO DA PRAYA
A corrupção da Vila de São João da Praia e o "Navio Calhamaço". Nesta semana que entra, comemora-se em 13 de maio, a libertação dos escravos. Neste intuito o blog traz algumas informações acerca do movimento de embarcações na costa da então Vila de São João da Praia, nas imediações da praia de Manguinhos, hoje pertencente à São Francisco do Itabapoana.O saudoso escritor e historiador João Oscar, em seu livro "Escravidão & Engenhos, página 63" menciona bem a preferência dos traficantes por locais isolados na costa brasileira, senão vejamos:
"Esmeram-se os traficantes na escolha dos locais de desembarque: vão-se estabelecer em praias desertas, nas quais se servem de pequenos barcos para o contato com os negreiros, e passam a adotar, nas suas comunicações, todo um complicado sistema de avisos, códigos e sinais costeiros que pudessem denunciar a presença de algum incômodo. Tudo sob o olhar complacente das autoridades locais, próximas dos pontos de desembarque, quase todas comprometidas com os mercadores de africanos, ou com os latifundiários que as elegiam e protegiam".
O jornal O Monitor Campista de 05 de agosto de 2004, página 04, trouxe um destaque intitulado "Memória - há 170 anos atrás" que menciona uma denúncia de aparição de navio negreiro nas imediações da Vila de São João da Barra, senão vejamos:
" Quarta-feira, 23 de julho de 1834
O contrabando de Africanos tem sido bastantemente activo; mas a energia do Governo, suas ordens positivas á diversas authoridades aonde se suspeita, ou se denuncia existência desses infelices, a mudança, que se vai operando no modo de pensar dos povos, relativamente a este objecto, nos faz julgar, que este mal brevemente será vedado. Em Campos, aonde ainda ha pouco tempo quasi que geralmente se observa hum indiferentismo, para a sorte desses desgraçados, conhece-se já, em huma grande parte da população, hum vivo interesse pela extincção desse vergonhoso tráfico: tem-se propagado, e abraçado a idéa de ser huma injustiça manifesta, que o homem estaja de hum lado pugnando pela sua liberdade, e lançando de outro lado ferros á seos similhantes: ja se convem que o melhor meio de ser feliz, he ser-se justo; e que a prosperidade não se obtem, ferindo-se a justiça, e a humanidade. Hum quadro comparativo das naçoens, cuja a industria se funda a escravidão, com prosperidade de outras, onde se observão religiosamente principios liberaes, seria sem dúvida bem util ao nosso actual: he com exemplos que nós accreditamos theorias que athé nos parecem impossiveis.Em um de nossos numerosos antecedentes dicemos que na Villa de S. João da Barra em hum lugar denominado manguinhos se havião effectuado desembarques de imensos captivos; que algumas authoridades da li erão conniventes, segundo a fama publica apregoára."
Diante desta denúncia acima mencionada, publica-se o Decreto:
" Tendo-se mandado conhecer pelo Juiz Municipal da Villa de São Salvador dos Campos, de huma denuncia dada pelo Collector das Rendas Nacionaes da Villa de São João Baptista da Barra, de haver aportado a esta Villa, huma embarcação denominada Calhamaço, com hum carregamento de duzentos e cincoenta africanos para o ilicito trafico da escravatura, e reconhecendo-se pelo summario a que procedera o sobredito Juiz Municipal, a existência desse facto, a que o Juiz de Paz daquela Villa, Manoel dos Santos Passos, man-comonado com o seu escrivão, Miguel Teixeira Bagueira, não só fora a bordo daquella embarcação, e se deixara peitar, recebendo alguns daquelles Africanos para si, e seu escrivão, e mais authoridades da Villa, a fim de consentirem no deshumano trafico destes infelizes; como protegera e auxiliara pessoalmente o seu desembarque com notavel prevaricaçâo e escandalo do cargo que exercia: A Regencia Permanente, em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro 2º manda suspender ao sobredito Manoel dos Santos Passos, do exercício do lugar de Juiz de Paz em que se acha a referida Villa, a fim de responder em Juizo pelos crimes em que se acha incurço. Aurelianno de Souza Oliveira Coutinho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça, o tenha assim entendido, e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em 23 de junho de mil oitocentos e trinta e quatro, decimo terceiro da Independência do Imperio - Francisco Lima e Silva - João Braulio Moniz - Aurelianno de souza e Oliveira Coutinho."
João Oscar ainda menciona o seguinte: "O preço médio pago pelos traficantes aos capitães de navios negreiros era de 140$000 por negro válido desembarcado. Revendiam-no aos fazendeiros e a outros interessados por cerca de 600$000. O lucro era, assim, fabuloso." (Escarvidão & Engenhos, página 63).
Fonte: Jornal O Monitor Campista, edições de 05 e 06 de agosto de 2004, ambos página 04.
Fonte: Oscar, João. Escravidão & Engenhos, Campos;São João da Barra; Macaé ; São Fidelis, Ed. Achiamé, Rio de Janeiro, 1985, página 63.
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