Como visto na publicação anterior, restou ao município de São João da Barra, resquícios de um passado em que a aristocracia rural dominava a região com a presença de capitães, tenentes, majores e coronéis, muitos deles voltados à produção açucareira nos pequenos engenhos. Alguns destes proprietários rurais eram verdadeiros traficantes de escravos a exemplo de Andre Gonçalves da Graça e Joaquim Thomaz de Faria, como menciona João Oscar, em "Escravidão e Engenhos"..
O Comendador Joaquim Thomaz de Faria possuía 250 escravos, em 1851. A sua esposa, D. Francisca Barreto de Jesus Faria, havia recomendado em testamento, no mínimo curioso, no caso de sua morte, que as escravas Ambrosina e Idália, de sua estrita confiança, fossem libertas e agraciadas com 1 conto de réis cada uma e mais: se tornariam legítimas donas de uma escrava cada uma. Como disse o saudoso João Oscar em sua obra "Escravidão e Engenhos", a situação em questão era um "tragicômico da escravidão: as escravas pardas citadas, tornando-se livres e ao mesmo tempo donas de escravas!".
João Oscar não termina por esta afirmação. Ele ainda indaga: Dona Francisca poderia ter tido essa atitude de "grandeza testadora", reconhecendo post-mortem filhas adulterinas de seu finado marido com escravas da fazenda? Taí, mais uma curiosidade das nossas histórias do período escravista...
Veja o trecho do testamento:
"Por minha morte ficará liberta a escrava Ambrozina, parda, a quem deixo para a servir a escrava Gabriella. Além deste legado, terá mais a quantia de hum conto de réis que lhe será entregue por meo testamenteiro. Também por minha morte ficará liberta a parda Idalia; deixo à mesma a quantia de hum conto de réis e a escrava Clemencia para a servir. estas duas escravas que liberto, como acima disse, Ambrozina e Idalia, merecem por mim esse favor".
Fonte: Oscar, João. Escravidão e Engenhos, 1985, Editora Achiamé, página 101.
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