sexta-feira, 13 de maio de 2011

SÃO JOÃO DA BARRA TEVE TESTAMENTO CURIOSO NO PERÍODO DA ESCRAVIDÃO

Como visto na publicação anterior, restou ao município de São João da Barra, resquícios de um passado em que a aristocracia rural dominava a região com a presença de capitães, tenentes, majores e coronéis, muitos deles voltados à produção açucareira nos pequenos engenhos. Alguns destes proprietários rurais eram verdadeiros traficantes de escravos a exemplo de Andre Gonçalves da Graça e Joaquim Thomaz de Faria, como menciona  João Oscar, em "Escravidão e Engenhos"..

O Comendador Joaquim Thomaz de Faria possuía 250 escravos, em 1851. A sua esposa, D. Francisca Barreto de Jesus Faria, havia recomendado em testamento, no mínimo curioso, no caso de sua morte, que as escravas Ambrosina e Idália, de sua estrita confiança, fossem libertas e agraciadas com 1 conto de réis cada uma e mais: se tornariam legítimas donas de uma escrava cada uma. Como disse o saudoso João Oscar em sua obra "Escravidão e Engenhos", a situação em questão era um "tragicômico da escravidão: as escravas pardas citadas, tornando-se livres e ao mesmo tempo donas de escravas!".


João Oscar não termina por esta afirmação. Ele ainda indaga: Dona Francisca poderia ter tido essa atitude de "grandeza testadora", reconhecendo post-mortem filhas adulterinas de seu finado marido com escravas da fazenda? Taí, mais uma curiosidade das nossas histórias do período escravista...


Veja o trecho do testamento:

"Por minha morte ficará liberta a escrava Ambrozina, parda, a quem deixo para a servir a escrava Gabriella. Além deste legado, terá mais a quantia de hum conto de réis que lhe será entregue por meo testamenteiro. Também por minha morte ficará liberta a parda Idalia; deixo à mesma a quantia de hum conto de réis e a escrava Clemencia para a servir. estas duas escravas que liberto, como acima disse, Ambrozina e Idalia, merecem por mim esse favor".

Fonte: Oscar, João. Escravidão e Engenhos, 1985, Editora Achiamé, página 101.

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