quarta-feira, 11 de maio de 2011

RELATÓRIO DE AUTORIDADE SANJOANENSE DENUNCIAVA TRÁFICO DE ESCRAVOS PARA A FOZ DO RIO PARAÍBA DO SUL

Foto: Arquipélago de Sant`Anna, em Macaé-RJ, onde as passagens de navios que traficavam escravos entre a Província do Rio de Janeiro e a Foz do Rio Paraíba do Sul, eram constantes. Fonte da foto: www.amaa.org.br

NAVIO NEGREIRO FOI QUASE INTERCEPTADO POR AUTORIDADES DE S. J. DA BARRA, NÃO FOSSE O TAL "VENTO NORDESTE"...
Mais uma vez temos que citar a obra "Escravidão & Engenhos", do escritor João Oscar quanto ao tráfico de escravos na costa sanjoanense. Vejamos o relato do Delegado de Polícia de São joão da Barra ao Presidente da Província do Rio de Janeiro, Luiz Pedreira do couto Ferraz, o  qual, por sua vez, o despachou ao ministro da justiça, Conselheiro José Ildefonso de Souza Ramos.

Refere-se o relatório à denuncia de que a escuna Estrela do Sul, sabidamente usada pelos negreiros, estaria em viagem para o porto sanjoanense, objetivando "fins ilícitos". Junto ao relatório, aquela autoridade municipal enviou relação das embarcações que entraram no Porto de São João da Barra, no período de 13 a 30 de janeiro de 1853, o que vem demonstrar que, sendo a maioria destinada ao transporte de açúcar e seus componentes, produzidos na planície de Campos, já àquela altura era bastante movimentado o setor portuário local.

Também como adendo, cita aquele documento histórico os barcos que, no período em referência, haviam aportado em Barra do Itabapoana, na divisa com a Província do Espírito Santo, cujo trapiche pertencenu ao Dr. Manoel da Costa Camorim.

O referido documento foi acompanhado de ofício em que o juiz municipal sanjoanense esclarece, em resumo:

"Tive a honra de receber a Portaria de V.Exa., datada de 4 do corrente, na qual me comunica que havendo denúncia de que a escuna "Estrella do Sul", pertencente a joão Luiz da Cunha, e que sahio do porto do Rio de Janeiro em o dia 31 do mez próximo passado, para o desta cidade, vai empregar no contrabando de Africanos, eu procedesse a exame e averiguações...

Devo porém ponderar a V.Exa. que essa escuna não podia aqui ter chegado em consequencia dos ventos nordestes, que tem havido, e que obrigão as embarcações, que dahi vem, a arribarem nas ilhas de Sana Anna...

Cumpre-me assegurar a V.Exa., que no caso que essa embarcação aqui chegue, procederei as diligências, etc..."




Fonte: Oscar, João. Escravidão & Engenhos, Editora Achiamé, 1985, páginas 83/84.