NAVIO NEGREIRO FOI QUASE INTERCEPTADO POR AUTORIDADES DE S. J. DA BARRA, NÃO FOSSE O TAL "VENTO NORDESTE"...
Refere-se o relatório à denuncia de que a escuna Estrela do Sul, sabidamente usada pelos negreiros, estaria em viagem para o porto sanjoanense, objetivando "fins ilícitos". Junto ao relatório, aquela autoridade municipal enviou relação das embarcações que entraram no Porto de São João da Barra, no período de 13 a 30 de janeiro de 1853, o que vem demonstrar que, sendo a maioria destinada ao transporte de açúcar e seus componentes, produzidos na planície de Campos, já àquela altura era bastante movimentado o setor portuário local.
Também como adendo, cita aquele documento histórico os barcos que, no período em referência, haviam aportado em Barra do Itabapoana, na divisa com a Província do Espírito Santo, cujo trapiche pertencenu ao Dr. Manoel da Costa Camorim.
O referido documento foi acompanhado de ofício em que o juiz municipal sanjoanense esclarece, em resumo:
"Tive a honra de receber a Portaria de V.Exa., datada de 4 do corrente, na qual me comunica que havendo denúncia de que a escuna "Estrella do Sul", pertencente a joão Luiz da Cunha, e que sahio do porto do Rio de Janeiro em o dia 31 do mez próximo passado, para o desta cidade, vai empregar no contrabando de Africanos, eu procedesse a exame e averiguações...
Devo porém ponderar a V.Exa. que essa escuna não podia aqui ter chegado em consequencia dos ventos nordestes, que tem havido, e que obrigão as embarcações, que dahi vem, a arribarem nas ilhas de Sana Anna...
Cumpre-me assegurar a V.Exa., que no caso que essa embarcação aqui chegue, procederei as diligências, etc..."
Fonte: Oscar, João. Escravidão & Engenhos, Editora Achiamé, 1985, páginas 83/84.