domingo, 15 de maio de 2011

ENCERRANDO A SEMANA DA ABOLIÇAO DA ESCRAVATURA , O BLOG TRAZ A HISTÓRIA DO QUILOMBO DE CARUKANGO, SEGUNDO AS PESQUISAS DE JOÃO OSCAR

Foto: Peça teatral dirigida por Diana Hintz, sobre o "Curunkango Rei", apresentada no Centro Cultural Narcisa Amália, na primeira década do século XXI. A peça foi baseada no romance intitulado "Curunkango Rei", do saudoso escritor sanjoanense, João Oscar. Entre os atores, o Professor Francisco de Assis Moreira representando o Curunkango; Paulo Rangel representando o fazendeiro Antônio Pinto;  Edmar Ferreira representanto o capitão do mato, entre outros atores e atrizes figurantes que deram um show à parte.

O QUILOMBO DO CORAJOSO E DESTEMIDO CARUKANGO

Entre os quilombos formados no Norte Fluminense, nenhum foi tão famoso quanto ao estabelecido pelo negro africano de nome Curunkango, possivelmente na Serra do Deitado, Distrito de Crubixais, na divisa do município de Macaé com os atuais municípios de Trajano de Morais e Conceição de Macabu, no lugar onde ficou conhecido como Carucango ou Querucango.

Esse escravo, natural de Moçambique, tido como zumbi e feiticeiro, tornara-se espécie de líder entre os negros da região, por suas reações à escravidão, na fazenda de seu senhor, o português Antônio Pinto, onde era constantemente surrado no tronco.

Era, esse escravo, de compleição atarracada, além de coxo e corcunda. Fugindo do cativeiro, percorria, à noite, as fazendas do interior de Macaé, insuflando os escravos a abandonarem as senzalas e se dirigirem para as matas onde tinha seu refúgio.

Graças a isso, em pouco tempo formou um agrupamento numeroso, que chegou a congregar cerca de duzentos negros.

Uma das primeiras vítimas de Curunkango, que se tornaria temido em todo o município macaense, foi seu próprio senhor, degolado na fazenda com sua família.

Passando a ser visto pelos escravos como vingador e justiceiro, ao ser procurado, certa feita, por um negrinho de nome Domingos, que se dizia maltratado pelo fazendeiro Francisco Pinto, irmão do seu ex-senhor assassinado, Curunkango dirigiu-se à fazenda daquele, em Crubixais, sendo recebido à bala. Ferido e não conseguindo concretizar seu intento, teria dito, segundo Lamego:

" - Eu volto cá meu branco e liquidaremos as contas". Foi o bastante. As autoridades macaenses, ante esse e outros atentados, temendo a evasão em massa dos escravos das fazendas, atraídos por Curunkango e suas façanhas, resolveram enfrentá-lo: em princípios do século retrasado, o Coronel Antônio Coelho Antão de Vasconcellos organizou uma ampla expedição, composta de homens fortemente armados, partindo em direção às matas onde se dizia estar situado o quilombo.

Este localizado e cercado, irrompeu cerrada fuzilaria, de que morreu lutando a maior parte dos negros fugidos, rendendo-se o restante aos invasores.

À frente dos que se entregaram às autoridades, vinha o Curunkango.

Deixemos que fale o historiador Antão de Vasconcellos:

"Saiu na frente o Curunkango, vestido com o hábito sacerdotal, trazendo no peito um rico crucifixo de ouro, ante o qual todos descobriram e abaixaram as armas, já para ele apontadas. Parou, olhou para todos os lados e, dirigindo-se a passos lentos para a direita, onde estava o quartel-general, ao aproximar-se do seu senhor moço, filho do Pinto, seu senhor, por ele assassinado, repetidamente ergueu o braço direito que trazia oculto sobre a capa sacerdotal, armado de uma pistola de dois canos, e sobre ele desfechou dois tiros, matando-o incontinenti."

Ali mesmo Curunkango foi barbaramente trucidado à foice. Sua cabeça foi cortada e espetada numa alta estaca, à beira da estrada geral, para servir de exemplo a outros escravos recalcitrantes.

Buscando informações, souberam as autoridades de Macaé que Curunkango era misticamente respeitado e adorado pelos negros quilombolas, que o consideravam ao mesmo tempo Imperador e chefe religioso, tendo pleno direito sobre as escravas virgens, algumas das quais sequestradas à força nas fazendas. À sua ordem, eram mortas e queimadas as crianças que nasciam no quilombo. Dizia Curunkango: "- A nossa raça deve extinguir-se para não ficar na mão do branco!"...

Fonte: Oscar, João. Escravidão e Engenhos, Editora Achiamé, 1985, páginas 176/ 178.

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