quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

REFLEXÕES À BEIRA D`ÁGUA

Como pode o homem vangloriar-se em construir monstros feitos de pedra, ferro e concreto com braços abertos no leito do rio, de bocas vorazes e famintas de energia, se a mãe natureza é a que controla tudo, é a que sempre existiu desde a criação divina e a única que exerce o poder soberano sobre os seres e sobre as transformações ? Como pode o homem querer mudar o rumo dos rios; a direção dos peixes; acabar com as vegetações ciliares; criar cascatas artificiais suprimindo as naturais; acelerar e diminuir a velocidade natural dos rios; mudar sua cor; elevar e reduzir sua altura e comprimento; sangrar-lhe aos poucos em agressivas tubulações, transposições ou eclusas; apagar os brilhos prateados dos espelhos d’água; não deixar se imortalizar um simples cair de uma folha na beira da margem de um rio ou se escutar um nascer de uma fonte, o borbulhar de um olho d’água ou até mesmo o descer de uma pequena corredeira à fio d’água ao cair nas pedras ? Como pode o homem retirar o belo e simples “banzeiro” do rio e em troca criar turbilhonamentos estridentes, espumantes e afugentadores das espécies? Não bastasse ao homem afugentar os animais, desabriga ainda o próprio semelhante que tem a sua identidade local proveniente de seus antepassados e não leva em consideração que ali muitos nasceram, cresceram, viveram e tiveram histórias de vida ímpares, que terão agora suas memórias inundadas gradativamente em metros quadrados quando o grande monstro cinzento abrir seus braços e fechar suas bocas. Será que podemos mensurar a memória de um povo em metros quadrados ou cúbicos??? Como poderão os peixes se multiplicarem, as aves protegerem seus filhotes nas copas das árvores das ilhas e ilhotas, as cobras e outros répteis buscarem seus abrigos, os crustáceos se esconderem entre as raízes aéreas trançadas nos mangues e rochas fluviais, os pequenos animais moluscos que habitam o assoalho fluvial buscarem subsolo adequado, as plantas nativas se polinizarem com os ventos , pássaros e insetos ?; Como será o espetáculo matinal do desabrochar das ipoméias roxas, das flores amarelas dos algodoeiros silvestres, das flores da piabanha e dos aguapês ?; E como ficarão os caiçaras que gostam de tomar banho nas margens cercadas de belas paisagens de pedras seixos, se o homem, ganancioso e prepotente, quer à qualquer custo a aparição do monstro de concreto pronto para lhe trazer mais prazeres de consumo na selva de pedra? Como os pescadores irão lançar suas redes, se no próprio rio acima do monstro cinzento não saberá a profundidade ? Como pode uma fonte de energia sugar, reter, reservar egoísticamente e exaurir tanta, tanta energia da terra, dos animais, dos vegetais, dos minerais, sem dar uma chance sequer de um retorno digno e benéfico à mãe natureza? Essa tomada pede muito de nós... O filho racional da mãe natureza parece estar sempre com razão... Mas, talvez o filho racional ainda não saiba que ele também pertença à GAIA, ao Cosmos e a tudo o que foi criado divinamente e se ele fizer algo de ruim contra a “mãe Coaraçú - a grande que dá origem à tudo” , isto recairá sobre ele como se cai um peso de mil rochas gnáissicas do céu, que também fazem parte de GAIA... do mesmo mundo que ele. E aí , quando despertarmos para a realidade, talvez seja tarde demais e estaremos nós, simples humanos, banidos de GAIA. André Pinto – 24 de outubro de 2005. Diga Não às Hidrelétricas no Paraíba do Sul !!!

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