sábado, 10 de setembro de 2011

VOVÓ IOLANDA: OITENTA E SEIS ANOS DE MUITA HISTÓRIA EM SÃO JOÃO DA BARRA

Foto: O pesquisador Andre Pinto com a vovó Iolanda, numa entrevista gravada e filmada de aproximadamente  duas horas de duração. Foto: Eloína Pinto.

 MEMÓRIAS DA NOSSA CIDADE

Neste início do mês de setembro, a nossa querida vovó Iolanda, completou oitenta e seis anos de idade. A vovó Iolanda, carinhosamente chamada por nós da família, nesta manhã de sábado foi entrevistada por mim, cuja gravação figurará para a memória cultural de São João da Barra, em um documentário a ser feito muito em breve.

Foram momentos inesquecíveis e realmente intrigantes sob o ponto de vista histórico. Muitos relatos foram colhidos por mim com também "causos" muito engraçados, dignos de figurarem na coluna "São João da Farra", do Jornal Quotidiano, de nosso amigo Bruno Costa.

A vovó Iolanda, para se ter uma ideia, foi uma das primeiras moradoras do Bairro Chapéu do Sol, quando a localidade só tinha uma ou outra casa, longe uma das outras e eram separadas por centenas de milhares de moitas restinga e brejais. Ela vivenciou o crescimento daquele bairro frequentando, quando criança, a vivenda do então Presidente Nilo Peçanha (um chalé que foi demolido há poucos anos atrás por um empresário sanjoanense) e do usineiro Vicente Nogueira, este último tendo fornecido um espaço para a família de vovó Iolanda morar e tomar conta da grande vivenda, nos períodos fora do verão. Conheceu diversas parteiras, a exemplo da "Virgilina" que era bem requisitada no território sanjoanense, entre outras que ela mencionou o nome na gravação.

Vovó Iolanda relatou ainda na gravação que, apesar de uma vida simples no meio da restinga do Chapéu do Sol, a família teve qualidade de vida, pois não faltavam alimentos, diversão (jogos de víspora, escopas etc), banhos de mar e passeios, inclusive os passeios à Campos pelo trem da extinta Leopoldina Railway. Vovó Iolanda me contou como foi o auge de sua adolescência, fazendo suas roupas de festa, como adquiria os seus sapatos vindos de trem de campos mandados por seu irmão e como eram feitas as sandálias femininas de couro e madeira compradas do Sr. Cajueiro. Na época não tinha creme dental e a escovação de dentes era feita com escova de pêlos rígidos com sabão de banho. 

No terreno em que brincava e executava as tarefas do lar, junto com os irmãos, já viu muitas preguiças, tamanduás, tatus e relatava que a casa sempre tinha que ser vistoriada por causa de cobras que se escondiam entre as paredes ou até mesmo esteiras de dormir. Na mocidade, catava palhão nos brejos de Chapéu do Sol para vender à Indústria de bebidas Joaquim Thomás. Já as esteiras, fazia escambo por comidas no armazém do Sr. Edgar Nogueira, no centro de São João da Barra. Alegou que em alguns momentos o cento de esteiras chegou a ser vendido por 400 réis, tamanha a utilidade.

Os memoráveis passeios de bonde elétrico (em Campos) e a ida de trem para Campos e Rio de Janeiro são as suas melhores recordações da belle époque. Também lembrou dos primeiros veículos de São João da Barra, o de Amaro Coelho e o de Juquinha Graça, que serviam até como verdadeiras ambulâncias num tempo em que circulavam em São João da Barra somente  carros-de-boi e cavalos com seus cestos de palha e vime de cipós retirados da mata da Caroara.  

Um fato curioso contado por vovó Iolanda foi durante a IIª Grande Guerra Mundial, onde as autoridades militares brasileiras pediam aos moradores do litoral que não usassem luzes fortes provenientes das lamparinas e mantivessem as janelas de frente para praia fechadas. Vovó Iolanda afirmou com convicção que já viu da praia em dias seguidos, durante as horas da noite, na IIª Grande Guerra Mundial, luzes de submarinos se comunicando. Ela ficava com muito medo. Já os navios de guerra, segundo ela, passavam distantes da costa, mas eram vistos pelos moradores. 

 Até os maiôs de epóca, aqueles do famoso banho das três, em Chapéu do Sol, foram detalhados por Vovó Iolanda, que contava que uma amiga ficava em frente à duna vigiando se alguém estava vindo para praia enquanto as outras amigas ficavam nas partes rasas se banhando.


A entrevista não parou por aí. Ela contou como se faziam os alimentos, os tipos de doces caseiros no tacho de cobre, a origem do nome Chapéu do Sol, a conservação dos alimentos num período que não existia a geladeira e energia elétrica, as cacimbas, o banheiro que era isolado da casa bem no mato etc


Graças à Deus, tudo isso está registrado para futuras pesquisas e manutenção das tradições orais de nossa gente.


Valeu Vovó Iolanda! Não paramos por aqui!
Semana que vem tem mais!