terça-feira, 16 de março de 2010

BALADA DO PARAÍBA É UM RETRATO FIEL DO QUE ACONTECE EM SÃO JOÃO DA BARRA E QUE FOI ESCRITA PELO POETA LUIZ GALDINO

Foto: O escritor de reconhecimento internacional, Luiz Galdino, lembra São João da Barra em sua obra "Balada do Paraíba". ATENÇÃO PROFESSORAS E PROFESSORES DE SÃO JOÃO DA BARRA: ESTE É UM ÓTIMO TEXTO PARA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS SOBRE A NOSSA TERRA E O RIO PARAÍBA DO SUL. VALE A PENA LER! Balada do Paraíba O meu Reino ia de serra a serra, A da mantiqueira era verde, a do mar era azul. E no vão das duas varava o rio. Pára aí, Paraíba! O rio não parava, só esbarrava no mar. Assim contava meu pai, ele conhecia o lugar. São João da Barra! O que mais tinha lá era fruta. De comer e de chupar, lambuzar e engasgar, até na hora de contar. Goiaba, jambo e araçá; pitanga, jaca mole e cambucá. Esse, o tipo de fruta que dava lá. Também, tinha peixe. De turvo e água clara, de corrente e remanso. Dos muitos jeitos de pescar, qual o melhor? Nhá Maria ria e dizia: -É só chegar no barranco e chamar! Bagre, cascudo e mandi; dourado, robalo e lambari. E pára aí, Paraíba! O rio não parava, só esbarrava no mar. Pra onde foi tanto peixe, pra onde foi Nhá Maria? São João da Barra, meu pai contava. Ele conhecia o lugar. Bom Jesus de Piedade era o nome do lugar. Difícil de encontrar. E flor era coisa de enjoar. Flor, flores, florinhas e florindas. E flor de fita nos cabelos de Rita. Tinha dália e crisandália, alecrim e mimosa, além do cravo que brigou com a rosa, debaixo de uma sacada que nem existia. A cerca era viva: toda flor de primavera. E a flor maior: bico-de-papagaio Dona Emília teimava: flor de papagaio! Seu Juca Biluca ria: pra que papagaio quer flor? Na mão direita, tinha nenhuma roseira. Havia uma touceira de hortênsias e minha mãe desgostava. Não das flores: uma explosão de estrelinhas azuladas, constelando o céu verde musguento. Mas da saparia jururu e cururu, que criava e procriava sob as ramagens. O resto era flor de mato. A gente despetalava e cantava: bem-me-quer...mal-me-quer... bem-me-quer... E pára aí, Paraíba! Água que desce acaso torna à fonte? Pra onde desceu dona Emília? Pra onde tornou seu Juca? O rio não parava e lá se ia a flor. Só esbarrava no mar. Assim contava meu pai, ele conhecia o lugar. Eu pedia, ela repetia. E eu dormia assanhado com as histórias Que negra Alzira contava. De nana-nenê que a cuca vem pegar, bicho papão em cima do telhado e saci-pererê. Dormia sem querer dormir, esperando pela disparada dos cavalos, pra ver se saci aparecia. Se ventasse, era só olhar pra ver. Ver mesmo, não via: modo de dizer. O que a gente cismava eram as brasas do cahimbo, fumegando por trás dos mamoneiros. E adiantava contar? Meu pai acreditava no que deixasse rastro. E saci deixava? Pulava numa perna só e apagava com vassourinha do campo. E a brasa do cachimbo? Vaga-lume e pirilampo, a mãe dizia. Alzira balançava a cabeça, dizendo não. E pára aí, Paraíba! O rio não parava, só esbarrava no mar. Alzira foi pro mar? São João da Barra! Assim contava meu pai, ele conhecia o lugar. De manhã, saci sumia. E a diversão era João Paulino e Maria Angu. Alegria então era grande. Demais da conta. Oh, Deus salve a casa santa, chegou o tempo do rei divino santo, festa em toda a casa, folguedo pra todo o canto. Rosinha mexia o doce e Sinhá, pirulito. Dadá, rocambole, Zelinda, quindim. Miquela, o mela-mela. E mané, capilé. Roldão dão-da-ra-rão soltava rojão. Seu Agnelo consertava chinelo. Seu Galvão, caneca de latão. Só um José nada fazia: brincava feito criança, com tabuinhas de construção. Zé Prequeté, tira bicho de pé, pra tomar café... A gente cantava e José olhava perdido um mundo só dele conhecido. Farinha de Suruí com pinga de Parati é a conta de comer e cair. Que fim levou a farinha? Marica levava a farinha e trazia beiju. E o parati tomava seu abreu. Se ele não pagar, nem eu. Pra onde foi Rosinha? Desandou o doce ou desandou ela? Pra onde levaram Sinhá piruliteira? Acaso se acabou, espetada num palito? Pára aí, Paraíba! Se foram com o rio, talvez? São João da Barra! Assim contava meu pai, ele conhecia o lugar. Meu pai gostava de leite, detestava leitão. E eu gostava de Rita. Rita, Rita, Rita do nariz arrebita! Quem não gostava era o pai dela: -Homem com homem, mulher com mulher; faca sem ponta, galinha sem pé! Assim ele dizia e a Rita pra casa ia. E do jeito que ela ia, tudo mais se foi. Foram-se os peixes e as flores, o cravo e a rosa, as hortênsias e a malva cheirosa. Foi o Zé Prequeté com seu bicho de pé. Roldão dão-da-ra-rão, dependurado num rojão; e Mané Capilé, agarrado ao buscapé. E o pai de Rita pra onde foi, com sua faca sem ponta, sua galinha sem pé? Pra onde foram Dadá, Zelinda e Marica? Pára aí, Paraíba! E ele parava? Só esbarrava no mar. Pra onde foi o meu pai? E minha mãe por onde anda? São João da Barra? O meu reino ia da serra a serra. A da mantiqueira era verde, a do mar era azul. Mas, além das serras, havia um mundo inteiro. E eu nem imaginava.
Texto completo, retirado do livro "Balada do Paraíba", Editora lê S/A, do autor Luiz Galdino. Notas sobre o autor: Luiz Galdino é paulista de Caçapava, Vale do Paraíba, a região que serviu de cenário para este texto maravilhoso. Luiz Galdino publicou mais de 50 títulos para jovens, adolescentes e crianças, obtendo com eles mais de 20 premiações no Brasil e exterior. Alguns desses livros venderam perto de l milhão de exemplares, demonstrando que o público endossou as escolhas da crítica. Entre os livros mais conhecidos nessa faixa de público, cita A Vida Secreta de Jonas, Pega Ladrão, O Fantasma que Falava Espanhol, O Destino de Perseu, O Brinquedo Misterioso, Moleque de Rua, Os Cavaleiros da Távola Redonda e Saudade da Vila. Desses 50 títulos, 5 foram selecionados para o acervo permanente da Biblioteca da Juventude de Munique, Alemanha, que escolhe, todos os anos, as melhores obras para jovens publicadas em todo o mundo. E, entre esses 5 títulos destacados, um - Saruê Zambi - entrou também para um catálogo muito especial"As Melhores Histórias de Guerra e Paz de Todos os Tempos", daquela Biblioteca. Este é o único livro brasileiro da lista. Quatro livros foram selecionados para exposição e acervo da Feira de Bologna, Itália. As histórias "Çarungaua" (infantil) e Gavião-Rei (adulto) foram traduzidas e publicadas no México e Estados Unidos. E, ademais, a obra, de modo geral, vem sendo estudada e transformada em temas de teses uiversitárias na Holanda, Japão e Brasil, claro.
Taí uma boa dica para trabalhos escolares e contações de histórias para nossos alunos sanjoanenses! Lembrem-se também de trabalharem com o livro para o seguimento infantil do nosso escritor sanjoanense Carlos Sá, intitulado "As aventuras de Pombote"! É maravilhoso! Abraços Andre Pinto.

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