UMA ÂNCORA FAMILIAR...
A história de meus antepassados tem tudo a ver com o rio e mar. Hoje, sei porque tenho tanto gosto na busca de histórias do nosso antigo porto fluvial, dos naufrágios na foz do Rio Paraíba do Sul, da chegada de Lourenço do Espírito Santo em 1622, da construção naval artesanal, dos vapores que navegaram por estas águas, enfim, de pescar neste "paraíbão" e ainda participar de um projeto de educação ambiental que envolve a saída de uma escuna científica do Cais do Imperador, onde conto muitas "estórias" e "histórias" da navegação. Está tudo na veia mesmo!
Foto: Sempre à procura de mapas, moedas, brasões, escudos, DVD`s etc. Gosto de tudo que envolva a navegação! Crédito da foto: Andre Pinto.
Tenho histórias contadas por meu saudoso pai, João Oscar, da origem de exímios navegadores em minha família. Em uma das histórias, um desses parentes, foi até jogado ao mar (sepultado numa lona fundeada de pedras e cordas), num tempo em que não se tinha como consevarem os corpos em frigoríficos. Outras histórias, de bons navegadores, conto aqui:
"OS PINTO"
Sabino Pereira de Porciúncula e sua mulher Joanna Pires de Carvalho, ambos baianos, descendentes, no que parece, de cristãos-novos (judeus que fugiam da Santa Inquisição, em Portugal, e vinham esconder-se no Brasil), foram os pais de Domingos Rodrigues Pinto, natural de Ilhéus, na Bahia, onde nasceu em 1839.
Domingos Rodrigues Pinto, marinheiro, viajando a serviço para nossa região da foz do rio Paraíba do Sul, onde era porto movimentadíssimo, no século XIX, face a exportação de açúcar produzido em Campos, conheceu São João da Barra, no Norte Fluminense, uma moça de nome Luíza Pinto da Silva, nascida em 1841, filha do português Paulo José Pinto e da sanjoanense Clara Francisca Rosa.
Apesar da oposição do pai da moça, que detestava marinheiros por serem tidos como mulherengos, casaram-se em 30 de novembro de 1872, conforme está registrado no livro de Assentos de Casamentos da Paróquia de São João da Barra, na página 91v.
É mais que certo que a moça já estivesse grávida quando se casou, pois o filho primogênito, João Rodrigues Pinto, nasceu no sexto mês de gravidez. Coisa de marinheiro mesmo...Conhecido em São João da Barra pelo apelido de Domingos “Tamanca” por causa de uma tamancada que teria levado do futuro sogro quando foi apanhado em flagrante namorando furtivamente a bela namorada Luíza, Domingos Rodrigues Pinto possuiu um pequeno navio a vapor, que o batizou com o nome de “Pinto”, e foi comandante de um navio de grande porte, o vapor “São João da Barra”, da rica Companhia de Navegação São João da Barra e Campos.
Nesse navio, conduzia produtos da região para os portos do Rio de Janeiro, de Santos, de Paranaguá e Porto Alegre, indo até, algumas vezes, segundo depoimentos de alguns de seus contemporâneos, a Montevidéu e Buenos Aires, demonstrando perícia no ofício de navegar. (trecho da genealogia da família Pinto, em São João da Barra, feito pelo saudoso escritor João Oscar Amaral Pinto).
Ainda hoje, tenho muitos parentes ligados ao ofício da navegação, alguns de forma amadora e outros até sendo oficiais da Marinha de Guerra como o meu tio, por parte de mãe, Augusto Rodrigues do Espírito Santo, que mora no grande Rio e defende o nosso Brasil.
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NO MEU TIMÃO E VELAS, SOPRAM OS VENTOS DA HISTÓRIA...
Hoje, posso dizer sem medo, que sou um apaixonado pela história da navegação de meu belo município de São João da Barra. Temos muitas histórias para contar! Temos tradições que perduram no tempo e não devem ser esquecidas. Em minhas veias circulam as águas salgadas do Oceano Atlântico e as águas doces (açucaradas pelos vastos canaviais da planície) que descem pelo Rio Paraíba do Sul. As mais satisfatórias poesias que fiz, envolvem o Rio Paraíba do Sul. Quando eu vinha de Teresópolis para São João da Barra, quando criança, passava com meus pais no caminho de Friburgo à São Fidelis e quando eu via o Rio Paraíba do Sul, por aquela estrada esburacada, eu ficava imaginando um monte de histórias e também que tipo de peixes deveriam existir sob aquelas águas. Também brincava com meu irmão mais velho, de contar quantas "coroas" víamos do trecho das serras de São fidelis em direção à Planície Goytacá. O Rio Paraíba era a magia de tudo!
Mas, no atual presente, vejo que esta história de nossa navegação, remonta muitos séculos de existência. Portugal, sem dúvidas, foi um ponto de partida crucial para nossas tradições. Hoje, felizmente, há ainda, muitos documentos que norteiam a evolução da navegação de Portugal e do Brasil, e, por que não dizer, São João da Barra! É verdade que muitos documentos estão espalhados por aí!
Eu procuro ser um colecionador destes documentos e obras de interesse da navegação e possuo um acervo significativo, que me serve de fontes basilares para esclarecimentos diversos. Desde a "História da Intendência da Marinha", de "O homem e o Mar", "História da Colonização Portuguesa no Brasil", "As Fronteiras do Brasil Colonial", "Barcos, Memórias do Tejo", "Muletas", "Gravuras de Navios da Marinha", livros de exploradores como "As Expedições de Darwin", "John Lucook" "John Hawkaw", entre outros e outros e outros...
Desde criança, gostava do tema de história de piratas, corsários, ilhas do tesouro, etc. Depois de me tornar gente "grande", tive a oportunidade de conhecer, como amador, a história da navegação entre Portugal e Brasil, "in loco", sentindo nos pés e nas mãos, os diversos cascalhos finos da "Ribeira das Náus" e outros pontos na Península Ibérica, onde Vasco da Gama construiu a sua esquadra rumo às Índias. Realmente um local de muita história! De nossa história, afinal! Grande emoção, foi também ter conhecido o local de partida da Família Real Portuguesa, por D. João VI, em Lisboa. A Torre de Belém, nem se fala! Nas bibliotecas de lé, aproveitei para trazer na bagagem algumas obras elementares sobre a história da navegação na Baía do Tejo e suas embarcações típicas, onde os grandes navegadores partiram (muitos não retornaram) para os locais mais distantes do globo terrestre. Navegar sempre foi preciso! Conheci o majestoso (um do maiores do mundo) Museu da Marinha, Museu das Galeotas e peças de artilharia Manuelina, elém de monumentos memoráveis da navegação portuguesa, como o próprio Padrão dos Descobrimentos e o mapa Mundi em que se pode pisar. Esta viagem foi em 2009, quando em família (eu, meu irmão e minha mãe) estávamos de férias.
Em resumo, a navegação em São João da Barra tem história e terá mais ainda com as operações do Porto do Açu. Só na fase de construção do Porto do Açu, o blogueiro já adensou uma série de fatos (históricos) que servirão de apontamentos futuros para aqueles que gostam da história de seu território.
Quem tiver algum material naval, seja foto antiga, obras literárias, processos, fichas de embarcações, registros antigos de pesca, ferramentas em desuso de nossa querida São joão da Barra, estou à disposição para providenciar uma cópia, fotografar ou até mesmo recebê-los em uma boa doação. Desde já agradeço.