terça-feira, 7 de setembro de 2010

SALOMÃO GINSBURG - A INDEPENDÊNCIA DO PROTESTANTISMO EM TERRAS SANJOANENSES

Foto: O memorável Missionário Salomão Ginsburg - Introdutor do Protestantismo em São João da Barra. A "tocaia" por ele sofrida em 1918, deveria virar um belo documentário!
UMA TOCAIA RELIGIOSA NO INÍCIO DO SÉCULO XX O dia da Independência em muito nos inspira para o estudo de vultos sanjoanenses, sanfranciscanos e até de estrangeiros que contribuíram para nossa cidade. Assim como as músicas patriotas, hoje cedo colocadas pelo locutor Emilson Amaral na Rádio Barra FM, uma boa história que envolva a independência em nossa cidade em seus diversificados aspectos, sejam eles culturais, históricos, religiosos etc, também nos dão muito ânimo e exemplos para continuarmos a nossa caminhada e missão aqui na terra. Reli com muita emoção, nesta tarde, a história do Missionário Salomão Ginsburg, que foi o primeiro missionário a introduzir o protestantismo no município de São João da Barra. Esta missão lhe trouxe sérias preocupações e quase foi morto em uma turbação de tocaia, que a história nos relata muito bem, digna de virar uma mini série global ou m grande documentário televisivo. O meu saudoso pai João Oscar, grande historiador do Estado do Rio de Janeiro, destinou em seu livro "Apontamentos para a História de São João da Barra", um capítulo exclusivo ao tema, sob o título: "Presença do Protestantismo". A vida do Missionário Salomão Ginsburg, é uma história de superações, de muitos desafios e de uma vitória inigualável! Eu sempre admirei muito a história de personalidades locais e regionais, tais como Benta Pereira, Narcisa Amália, Barão Von Kummer, Silva Coutinho, Domingos Fernandes da Costa etc, mais a biografia do Missionário Salomão Ginsburg é fenomenal!Dá um lindo filme, um belo documentário! A LUTA DE SALOMÃO GINSBURG PARA O ROMPIMENTO DE PRECONCEITOS RELIGIOSOS EM NOSSAS TERRAS João Oscar, no livro acima mencionado, página 61, menciona: "Em consequência da intolerância religiosa dos fazendeiros da região, não encontrou o protestantismo, quando da vinda dos primeiros missionários batistas para a planície, em fins do século passado (retrasado), terreno muito fértil para a sua expansão. A luta desses abnegados servidores de Deus foi tremendamente difícil para romper os seculares preconceitos ali firmados. Mas, com a ida para Campos, em 1893, do culto pastor americano Salomão Ginsburg, modificou-se inteiramente a situação: esse missionário, que havia encontrado ali apenas 45 adeptos de sua religião, granjeou, graças à sua bondade, as simpatias de todos os que dele se aproximavam, expandindo substancialmente seu ideário religioso." A "Revista de Estudos Bíblicos e Históricos", número 02, Campos, julho de 1984, página 45 lembra de um atentado sofrido pelo Missionário Salomão Ginsburg, no território sanjoanense, em 1918 (Hoje município de São Francisco do Itabapoana) , através da memorável entrevista feita à D. Mocinha: "No ano de 1918 houve uma grande perseguição aos primeiros crentes daqui. Um culto foi marcado para a casa do Sub-delegado, Francisco Nunes, cujo filho, Cesário Nunes, era crente. O pregador era o Missionário Salomão Ginsburg. Quando os crentes estavam cantando veio uma multidão que, aos gritos, exigia: "Bota pra fora esse careca que nós queremos matá-lo." Foi uma cena muito triste. O Sub-delegado saiu e pedia ao povo compreensão e que dispersassem. Mas eles estavam muito enfurecidos. O salomão quis ir atrás do sub-delegado para ajudá-lo. Porém a filha do sub-delegado o segurou. Salomão começou a lutar para se livrar dos braços da moça que o segurava fortemente. Ela dizia: "O senhor não sai porque eles não querem nada com o papai. Eles querem é o senhor." O Salomão se esforçava ainda mais. Assim, já perto da porta, os dois lutavam. Ela se interpôs na porta. Neste momento deram vários tiros. Uma bala passou entre a cabeça do missionário e da moça. Por um triz não atingia o missionário. A bala ficou encravada na parede e Salomão mandou tirá-la e engatá-la em seu relógio, pois aquilo era a providência de Deus. E era um troféu... Estas e outras histórias contadas por Dona Mocinha ficaram para o Museu da Igreja Batista, segundo afirma a Revista de Estudos Bíblicos e Históricos. EM 2010, SÃO JOÃO DA BARRA TEM RECENTE TRABALHO CIENTÍFICO SOBRE "O PROCESSO DE DOMINAÇÃO CULTURAL NA ORGANIZAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS DOS HABITANTES DE SÃO JOÃO DA BARRA" Os estudantes de geografia do Instituto Federal Fluminense, Angelina Barros Mota Arêas, Rafaela Pinheiro de Almeida e Gustavo Siqueira da Silva, pretendem, com este trabalho científico, destacar os sanjoanenses não apenas como moradores de um município cercado por atrativos naturais como já destacava a poetisa local e primeira jornalista do Brasil Narcisa Amália ao escrever sobre os campos de esmeralda e lagos de areia dourada, mas como um povo o qual interpreta a vida através de suas experiências acumuladas e que faz da distinção religiosa um elemento de diferenciação cultural. Ao analisarem a gênese da cidade bem como a construção da cultura local puderam constatar que esta se encontra profundamente relacionada à herança do foco inicial português, o qual se manifesta pela forte religiosidade. Dessa forma, a história de São João da Barra é como a de muitos municípios brasileiros: marcada pela influência católica que se materializa espacialmente e na percepção da população. É partindo desta constatação que os estudantes direcionaram as analises para o predomínio católico em São João da Barra frente ao paradoxo entre essa dominação e o avanço de manifestações religiosas protestantes, as quais denominaram dessa forma por terem seu inicio após a Reforma Protestante de 1517. Em território sanjoanense as principais religiões pertencentes a essa denominação são: a Congregação Cristã no Brasil e Assembléia de Deus e pelas Igrejas Universal do Reino de Deus e Renascer em Cristo. ESTUDO MENCIONA SALOMÃO GINSBURG Entretanto, essa hegemonia não impediu que outros focos iniciais estabelecessem suas marcas no município. O protestantismo, por exemplo, começou a ser difundido no início do século XX pelo missionário americano Salomão Ginsburg que como salienta Amaral (1972) travou luta tremendamente difícil para romper os seculares preconceitos ali firmados. A hegemonia católica somada aos insultos e violentos atentados sofridos pelo religioso nas terras sanjoanenses se caracterizam por serem uma forma de interação entre sistemas religiosos conhecida como competição e instabilidade, pois é caracterizada por sua inconstância com forte tendência a resistência por parte das minorias (HOSENDAHL, 1995). SEGUNDO PESQUISA, NÚMERO DE ADEPTOS AO CATOLICISMO EM SJB CAIU DE 80% PARA 65% Essa mudança se torna visível ao analisarmos os dados referentes à religiosidade dos últimos quatro anos. Em 2002 a pesquisa realizada pela prefeitura apurou que 80% da população seguiam o catolicismo, já em 2010 constatamos que esse número foi reduzido para 65%. Esse desenvolvimento ocorre por possuírem discursos destinados a um público específico que convive com problemas relacionados à marginalidade. Sua manifestação no espaço ocorre à medida que o município possui atualmente cerca de 15 templos de igrejas protestantes que como considera ROSENDAHL, 1995 apresenta territorialidade informal e fugaz, não se limitando a uma estrutura territorial formal e perene expressa pelas paróquias e dioceses católicas que são espacialmente delimitadas e permanentes. Quem quiser saber mais sobre o trabalho científico dos estudantes de geografia do IFF, basta copiar e colar o endereço a seguir na barra da internet : www.agb.org.br/evento/download.php?idTrabalho=3692 Fontes usadas para o trabalho científico dos estudantes do IFF: BIBLIOGRAFIA AMARAL, João Oscar Pinto. Apontamentos para a história de são João da Barra, Rio de Janeiro: Mini Gráfica Ltda, 1972. BRUM NETO, Helena; BEZZI Meri Lourdes. Regiões culturais: a construção de identidades culturais no Rio Grande Do Sul e sua manifestação na paisagem gaúcha. Uberlândia: Sociedade & Natureza, 2008. FARIA, Teresa Peixoto. Gênese da rede urbana no Norte e Noroeste Fluminenses. In: CARVALHO, Ailton Mota de; TOTTI, Maria Eugênia Ferreira (Orgs). Formação histórica e econômica do Norte Fluminense. Rio de Janeiro: Garamond, 2006, p. 69-97. MENDONÇA, Antônio Gouvêa; FILHO Prócoro Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2000. MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragem e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 2007. MARTINS, Fernando José. História sobre a povoação e fundação da cidade de São João da Barra. Rio de Janeiro: SEMEC, 2004. ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Espaço e Cultura: Pluralidade Temática. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2008. ROSENDAHL. Espaço e Cultura. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1995.

Um comentário:

Gustavo disse...

Caro André, em primeiro lugar gostaria de parabenizá-lo pelo blog, que está muito bem constituído em suas matérias. Em segundo só corrigir que as meninas são estudantes e bolsistas de iniciação científica e que eu Gustavo sou professor orientador das mesmas. Com relação a esse trabalho especificamente ainda está andamento. Queremos fazer um mapeamento dos referenciais religiosos (festas, templos, hierarquia) para podermos estabelecer uma reflexão a cerca das relações do espaço com a cultura, no caso, em sua manifestação sagra. Abraço.