sábado, 16 de agosto de 2008

JOÃO RODRIGUES PINTO - UM ÍCONE SANJOANENSE

A História... ...E tudo começou na Bahia. Sabino Pereira de Porciúncula e sua mulher Joanna Pires de Carvalho, ambos baianos, descendentes, no que parece, de cristãos-novos (judeus que fugiam da Santa Inquisição, em Portugal, e vinham esconder-se no Brasil), foram os pais de Domingos Rodrigues Pinto, natural de Ilhéus, na Bahia, onde nasceu em 1839. Domingos Rodrigues Pinto, marinheiro, viajando a serviço para nossa região da foz do rio Paraíba do Sul, onde era porto movimentadíssimo, no século XIX, face a exportação de açúcar produzido em Campos, conheceu São João da Barra, no Norte Fluminense, uma moça de nome Luíza Pinto da Silva, nascida em 1841, filha do português Paulo José Pinto e da sanjoanense Clara Francisca Rosa. Apesar da oposição do pai da moça, que detestava marinheiros por serem tidos como mulherengos, casaram-se em 30 de novembro de 1872, conforme está registrado no livro de Assentos de Casamentos da Paróquia de São João da Barra, na página 91v. É mais que certo que a moça já estivesse grávida quando se casou, pois o filho primogênito, João Rodrigues Pinto, nasceu no sexto mês de gravidez. Coisa de marinheiro mesmo... Conhecido em São João da Barra pelo apelido de Domingos “Tamanca” por causa de uma tamancada que teria levado do futuro sogro quando foi apanhado em flagrante namorando furtivamente a bela namorada Luíza, Domingos Rodrigues Pinto possuiu um pequeno navio a vapor, que o batizou com o nome de “Pinto”, e foi comandante de um navio de grande porte, o vapor “São João da Barra”, da rica Companhia de Navegação São João da Barra e Campos. Nesse navio, conduzia produtos da região para os portos do Rio de Janeiro, de Santos, de Paranaguá e Porto Alegre, indo até, algumas vezes, segundo depoimentos de alguns de seus contemporâneos, a Montevidéu e Buenos Aires, demonstrando perícia no ofício de navegar. Domingos e sua mulher Luíza tiveram, entre outros, os seguintes filhos: João Rodrigues Pinto, nascido em 09 de maio de 1873; Domingos Rodrigues Pinto (pai de Ruy Rodrigues Pinto); Esmerília Tavares Pinto (mãe de Francisco Tavares Pinto e chico Tamanca); Antônio, que residiria no Rio de Janeiro, no morro do “Pinto”, logradouro derivado do nome pelo qual ele era chamado; e Alberto, que sofria de eplepsia e morreu solteiro, ainda jovem. Dado a aventura amorosas, Domingos Tamanca também foi pai, fora do casamento, de Benedito Almeida, cuja a mãe era provavelmente negra, criando o menino em sua própria casa, a todos dizendo, para não contrariar a mulher Luíza, que era “um menino abandonado que encontrara numa de suas viagens...” Domingos faleceu em meados da década de 1920. Teve morte trágica: morreu de asfixia, com um pedaço de nervo de carne assada entalada na garganta. Era um homem magro, retilíneo, de estatura acima da mediana, meio aloirado, gostava de usar cachimbo. Luíza, ao contrário, era baixinha, meio gordota, tinha olhos azuis cristalinos, e morreu de morte súbita em 1935, com avançada idade (94 anos). Seu filho João Rodrigues Pinto, moreno claro, de olhos miúdos e castanhos, somente cursou o primário. Sendo, no entanto, esforçado autodidata, aprendeu na escola da vida, destacando-se nas diversas profissões que exerceu. Conhecido como João “Tamanca”(apelido herdado de seu pai), foi professor primário e de alfabetização de adultos, inspetor escolar, modestíssimo tabelião de interior e secretário de todos os prefeitos de São João da Barra entre 1922 a 1950, com exceção de um só, o Dr. Afonso Celso Ribeiro de Castro, seu adversário político. Este, simpatizante do Integralismo fascista da época, o acusou de comunista durante a ditadura do Estado Novo, e em 1939 o meteu na cadeia de Campos, juntamente com os filhos Manuel e Alberto, além de outras vinte pessoas, gritando injustiça que mereceu vibrante defesa do advogado campista Dr. Gastão Graça, um homem de bem, que o colocou em liberdade após dois meses de prisão. João Tamanca também trabalhou durantes anos como barbeiro, jornalista e despachante de estiva, deixando, ao falecer em 24 de setembro de 1955, versos e crônicas de sensível inspiração, infelizmente desaparecidos, tendo sido o autor do hino de São João da Barra, solenemente apresentado em 1950, por ocasião do centenário da cidade. Tendo ido trabalhar, ainda jovem, na cidade do Rio de Janeiro, então Capital do Império, ali conheceu, já no início da República, uma moça francesa de rara formosura, a senhorita Nancy, de quem logo ficou noivo. Estavam fazendo os preparativos para o casamento quando ele, desejoso de obter a benção materna para o compromisso sagrado que iria assumir, viajou a São João da Barra, onde pretendia passar uns dias, deixando no Rio, à sua espera, costurando e bordando as peças do enxoval, a senhora noivinha. Foi então que ocorreu o inesperado: na terra natal, conheceu e logo se apaixonou por uma menina-moça de nome Amélia, de tradicional família, descendente da Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo. Do namoro e enlace nupcial correram apenas oito meses: casaram-se em 1906. Ele, magro, de baixa estatura; ela, um tanto alta, clara e já com traços da robustez que a tornaria, no decorrer dos anos, a mulher mais gorda da cidade. Quando se casaram, tinha ele 36 anos de idade e ela apenas 16, uma diferença, portanto, de 20 anos entre ambos, o que a levaria a chamá-lo, até o final da vida, em 1951, de “Seu João” e de “senhor”... Bom, quanto à bela Nancy, por uma dessas casualidades do destino, viria a casar-se com o marinheiro Agenor, cunhado de João Tamanca, em cerimônia realizada no Rio de Janeiro e seria mãe de Roger de Souza Malhardes, sobrinho de Amélia, mulher do dito João, de cuja a dócil filha Iorquiméia se tornaria terno marido, fechando assim o ciclo insondável da teia de uma família que se consolidou no amor e na união. João Rodrigues Pinto, o João “Tamanca”, a sua mulher Amélia de Souza Pinto foram pais dos seguintes filhos: Domingos, apelidado de “Bacalhau” , João Batista, que morreu em tenra idade, solteiro; Manuel, apelidado de Perna; Iorquiméia ; Agenor, conhecido como Nono; Alberto, apelidado de Siri; Maria das dores, conhecida como Mariquita; Olinto, que tinha o curioso apelido de caga-brasa; Luíza, chamada de Lili, Eloína; Períla, Hilton, conhecido como “Pintinho” e Amélia, a que todos chamavam de Amelinha. João Rodrigues Pinto ou João “Tamanca” ilustra com seu nome, atualmente, uma Escola na rua dos Passos, na sede deste município, inaugurada em março de 1996 por seu neto, o saudoso escritor e historiador João Oscar, quando exerceu o cargo de Secretário de Educação e Cultura. Termino este saudoso relato lendo o inesquecível hino de São João da Barra, inscrito por João Rodrigues Pinto e com arranjo de Eloy Motta, na ocasião da comemoração do centenário da cidade, publicado no jornal “A Evolução de 02/07/1950”. HINO DE SÃO JOÃO DA BARRA Salve! Salve! Teu belo e rico templo Que marca e remonta oriundo Da luz no grande, vasto, ovante mundo, Pregando a fé e, dos Santos, o exemplo!... Por essa tão tamanha e Santa Glória Recebe, pois, um preito de alto amor, Rincão bendito de brilhante história, Que bem mostra da Pátria seu valor. Salve São João da Barra! Bradamos, Salve! Terra de flores como a dália, Formoso berço de Narcisa Amália, Salve! Salve! Bem alto, alto gritamos!... De riquezas mil, entre riba e riba, Ostentando paisagens singulares, Formando verdes ilhas, verdes mares, Corre ufanoso o nobre Paraíba!... Salve áureo centenário da cidade, Cidade toda orgulho sanjoanense, Clara estrela do céu fluminense De um passado brilhante de saudade! *Feito por André Pinto, bisneto de João Tamanca, em adaptação ao texto original de João Oscar