domingo, 20 de setembro de 2009

PÓLO INDUSTRIAL DO AÇU SERIA IGUAL AO MODELO DE KALUNDBORG, NA DINAMARCA ?

Com comentários de que a área de expansão industrial do Complexo do Açu poderia abrigar um modelo de gestão ambiental denominado "SIMBIOSE INDUSTRIAL", o blog traz à tona o que significam estes conceitos modernos de gestão ambiental com aproveitamento dos resíduos gerados por cada atividade industrial, para que você fique ainda mais por dentro do assunto. MODELOS INSPIRADOS NA NATUREZA Diversos modelos de gestão foram criados nas últimas décadas a partir de conceitos extraídos da ecologia. Modelos como atuação responsável, TQEM, produção + limpa, ecoeficiência, projeto para o meio ambiente, apresentam variações muito próximas com denominações diferentes, o mesmo tembém ocorre com esta família de modelos. Metabolismo industrial, ecologia industrial e simbiose industrial são alguns modelos de gestão ambiental que têm em comum a tentativa de aproximar os sistemas de produção humanos com o que ocorre com os organismos num ecossistema. A alimentação é um elemento de ligação entre os organismos que formam a comunidade biológica. Os organismos extraem alimentos de seu meio e devolvem os restos, que são alimentos de outros organismos. Um conjunto de empresas poderia formar uma comunidade empresarial na qual os resíduos de produção de umas empresas são insumos para outras. O conceito mais importante da ecologia industrial (industrial ecology) é que, igual a um sistema natural, esse modelo rejeita o conceito de resíduo. O objetivo básico dessas propostas é a criação de sistemas de produção inspirados em fluxos de materiais e energia entre os organismos e seu meio físico, nos quais as perdas são mínimas. A palavra metabolismo, empregada na Biologia, refere-se ao conjunto de processos físico-químicos que transforma os compostos orgânicos em energia para as atividades biológicas dos organismos. De modo análogo, metabolismo industrial (industrial metabolism) é um conjunto de transformações físico-químicas que converte-matérias-primas (biomassa, combustíveis minerais, metais etc.) em produtos manufaturados, estruturas produtivas e resíduos. Tomando-se o exemplo da natureza, que é um modelo de ciclo fechado, não produz resto que não desempenhe uma função. Tomando-se o exemplo de um sistema industrial que pode ser um modelo de ciclo aberto, este torna-se, de certa forma, insustentável, pois os recursos extraidos do ambiente natural, que são nutrientes desse sistema, retornam para o ambiente como resíduos que não são completamente reciclados. Conforme diz Ayres - "Há apenas dois destinos para os resíduos materiais de longo prazo: a maior quantidade é reciclada ou reusada, mas uma parte menor será dissipada no meio ambiente, representando perdas que devem ser repostas por fontes de materiais virgens. Como sempre ocorrem perdas nos sistemas industriais, sempre haverá a necessidade de extrações adicionais de recursos para manter o nível de produção. (Ayres, R.U. Industrial Metabolism: theory and policy. In: Ayres,R.U.;UDO,E.S. Industrial metabolism: restructuring for sustainable development. Tokyo: United Nations University, Press, 1994.) O balanço de materiais é a preocupação básica do metabolismo industrial. O modelo de ecologia industrial (industrial ecology) inclui esta preocupação, mas vai além, pois as interações entre os sistemas industriais e o meio ambiente requerem conhecimentos de ciências ambientais. A implementação de modelos inspirados na natureza requer a reestruturação dos sistemas produtivos de um conjunto de empresas em intensa articulação, para que os resíduos de uma unidade produtiva sejam usados por outras, imitando tanto quanto possível os ciclos biogeoquímicos de um ecossistema, em que todos os resíduos acabam sendo absorvidos de alguma forma. A idéia central é formar uma comunidade biológica. Os resíduos e excedentes de uma unidade produtiva convertem-se em insumos para outras. Economia de recursos naturais emelhoria da qualidade ambiental são os resultados desse modelo, cuja implementação não seria possível sem a integração entre as empresas. O Parque industrial de Kalundborg, na Dinamarca, é um dos exemplos mais citados para demonstrar que tais modelos não são utopias. Nesse parque,encontram-se diversas empresas integradas, como a statoil, maior refinaria de petróleo da dinamarca e a Asnaes Power Station, maior geradora de energia elétrica, que produz por ano cerca de 170 mil toneladas de cinzas resultantes da queima de carvão, usadas como insumo pela fábrica de cimento Aalborg Portland e para pavimentos de estradas. Cerca de 200 mil toneladas anuais de gesso resultante do processo de remoção de SO2 , um dos principais poluentes atmosféricos, são usadas pela Gyproc na fabricação de painéis para a indústria de construção. A energia excedente é transferida para a rede local de aquecimento. A Novo Nordisk produz insulina e enzimas industriais e gera resíduos ricos em fósforo e nitrogênio, que são transformados em fertilizantes. A experiência de Kalundborg também tem sido denominada simbiose industrial (industrial symbiosis). simbiose, outra expressão extraida da biologia, simplificadamente, significa qualquer relacionamento ou associação entre organismos de diferentes espécies, inclusive o parasitismo. No caso da simbiose industrial, espera-se construir um relacionamento permanente e harmônico entre empresas de diferentes segmentos do processo produtivo situadas num parque ou região industrial. O Exemplo de Kalundborg é muito significativo para os promotores de modelos baseados no meio natural, pelo fato de que a integração dos fluxos de materiais e energia entre as unidades desse parque foi tomada ao longo de décadas, de modo espontâneo. Um exemplo brasileiro Num parque industrial, é possível alcançar um alto grau de simbiose por meio de uma sucessão de integrações parciais do tipo dois a dois, ou seja, por meio de projetos que integrem empresas de dois seguimentos diferentes de cada vez. Por exemplo, a Copesul, empresa do pólo petroquímico do Rio Grande do Sul, gastava cerca de US$50,00 por tonelada para descartar a sulfocáustica, um rejeito químico perigoso. Essa empresa identificou a possibilidade de usar esse resíduo como insumo para uma empresa vizinha da indústria de papel e investiu numa pequena planta para adequá-lo às necessidades desse usuário. Com isso, ela transformou um problema ambiental em oportunidade de negócio. Exemplos como esse são alentadores, mas nem sempre se consegue aproveitar os resíduos em um local próximo. As bolsas de resíduos podem ser uma opção para a falta de oportunidade de uso dos resíduos próximo do local onde foram gerados.É verdadeiramente auspiciosa a possibilidade de criar parques ou distritos industriais à semelhança de um ecossistema, em que as sobras de uma unidade produtiva são aproveitadas por outras. Tratar a questão ambiental em conjunto e não de forma isolada promete ser mais vantajoso em termos de sustentabilidade ambiental, embora isso nem sempre seja viável economicamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom... André, dê uma lida no post "Cartão Vermelho", em www.vitodiniz.wordpres.com. Abçs. Vito.