segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

RECONSTRUÇÃO DE TERESÓPOLIS CUSTARÁ MAIS DE R$500 MILHÕES, DIZ PREFEITURA

CORRESPONDENTE DO BLOG DE ANDRE PINTO CONTA A VERDADE DA TRAGÉDIA EM TERESÓPOLIS


O prefeito de Teresópolis anunciou nesta sexta-feira (14) que a reconstrução da cidade custará mais de R$ 500 milhões.”

Prefeito de Teresópolis em coletiva nesta sexta-feira, 14 de janeiro
Impressionante... Passados poucos dias – MENOS DE UMA SEMANA – das chuvas que ainda caem sobre nós, e o prefeito de Teresópolis já divulga o montante que vai necessitar para nossa reedificação...

Que precisão, e em tão pouco tempo, para que algum secretário, extremamente preocupado com a população de Teresópolis – repito: Teresópolis! –, tenha se debruçado em números e mensurado valores que a prefeitura irá precisar para aplicar na reconstrução da nossa cidade ainda DURANTE a catástrofe que continua a se abater sobre o nosso povo! Que visionário!!!

Diante de tamanha rapidez das autoridades em atribuir valores para esta tragédia, pergunto:

1) Como a prefeitura chegou a esse valor tão rápido?

2) Por que só R$ 500 milhões?

3) Por que não logo R$ 1 bilhão? Ou R$ 2 bilhões?

Mas as perguntas que devem ser feitas – E RESPONDIDAS! – são:

1) Qual o número de famílias desabrigadas?

2) Quantas casas foram destruías?

3) Quantas famílias ainda estão vivendo em áreas de risco?

4) Quantas pessoas ainda estão desaparecidas?

5) Quantas comunidades estão isoladas sem nenhum tipo de assistência?

6) Onde serão abrigadas, temporariamente, essas pessoas até a construção das novas moradias?

7) Onde serão construídas essas novas moradias?

8) Que tipo de assistência está sendo dada aos nossos irmãos do 2º e 3º distritos?

9) Quanto tempo será necessário para normalizar a nossa segurança, o abastecimento de água, de alimentos, de combustíveis, de luz etc.?

10) Existe algum Plano de Contingência que está sendo colocado em prática?

Vamos relatar alguns fatos:

1º) Tragédia e descaso:

Mais uma vez castigada pelas chuvas de verão, a nossa cidade ainda contabiliza as perdas depois dos temporais que começaram na madrugada de terça-feira, dia 11 de janeiro.

Com quase 300 vítimas fatais, Teresópolis concentra o maior número de mortos da Região Serrana do RJ. As mortes ocorreram nas localidades de Poço dos Peixes, Fazenda da Paz (no bairro da Posse), Granja Florestal, Parque do Imbuí, Barra do Imbuí, Vale Feliz, Jardim Serrano, Caleme, Campo Grande, Jardim Feo, Vila Muqui, Salaco, Espanhol, Bonsucesso, Vieira, Motas, Fischer, Três Córregos, Serra do Capim, Água Quente, Providência e Gamboa.

Uma das ruas de Poço dos Peixes que virou um rio de destroços
Cerca de duas mil famílias – no mínimo – deveriam ter sido removidas das áreas de risco, antes das já conhecidas e anunciadas CHUVAS DE INÍCIO DE ANO. Houve uma combinação de um fenômeno natural com a imprudência dos vários prefeitos – anteriores e do atual – que não contiveram a ocupação desordenada ou não retiraram essas famílias dessas áreas que, segundo a atual administração, já tinham conhecimento do risco que essas famílias corriam nesses locais. E nada foi feito. Que lástima!!! Que infelicidade!!! Que descaso incomensurável com as vidas dessas pessoas...
Familiares enterram vítimas das chuvas, até de madrugada

2º) Arrastões:

Os comerciantes da Calçada da Fama, da Avenida Feliciano Sodré, dos shoppings Teresópolis e New Fashion, da Galeria Teresópolis, da Rua Duque de Caxias, da Reta entre outras localidades fecharam as portas de suas lojas, na manhã desta sexta-feira, dia 14, devido a um boato de “arrastão”. Eles ficaram assustados com comentários sobre possíveis saques que estariam ocorrendo no Centro da cidade, especificamente na Calçada da Fama. A polícia foi deslocada para o local e, segundo o comandante do 30º BPM (Teresópolis) não houve “arrastão” na cidade.

Mesmo assim, policiais da Força Nacional e reforços de vários batalhões da Polícia Militar já chegaram a nossa cidade e vão ajudar no patrulhamento em Teresópolis e conter os saques, que já começaram nos bairros mais atingidos e onde as casas foram abandonadas pelos moradores.


3º) Coordenação pífia ou inexistente:

Leia o seguinte relato, que recebi através de email, de uma pessoa, dentre as centenas de outras – enfermeiras, fisioterapeutas, pessoas em geral –, que se ATREVEU a ser voluntária, apresentando-se na Defesa Civil da Prefeitura Municipal de Teresópolis, para ajudar aos desabrigados:

"INDIGNAÇÃO...

Esta é a palavra para expressar meu sentimento nessa hora tão difícil para tantas famílias...

Fui ao Pedrão para me oferecer para ajudar. Deixei 2 filhas e meu marido e segui para o Pedrão. Chegando lá não pude entrar. Foi então que encontrei meu irmão que tinha ido lá p/ retirar 1 família, finalmente consegui entrar com ele, pois queria ver se havia alguém conhecido desabrigado.

Vi muita doação pelas arquibancadas e pensei: Graças a Deus!

Comecei então a reparar como as coisas estavam funcionando... Uma zona!!!!!!

Disseram que não estavam precisando de voluntários e nos encaminharam para a Defesa Civil.

Voltando ao Pedrão, pude notar muito trabalho para fazer... MUITO, e também sem organização, sem comando, sem uma efetiva coordenação e os voluntários que ali estavam... Não davam conta, muitos por cansaço visível.

Lá fora, muita gente querendo ajudar e sendo barrado na porta e sendo mandado para a Defesa Civil na Tijuca!!!!!

Além disso, vi gente “conhecida” saindo com cesta básica... Sem necessidade.

Gente pegando garrafinha de água lá de dentro e vendendo lá fora... EU VI; ninguém me contou... Enfim, fiquei enojada. No pátio, muitos secretários em seus celulares, muita gente uniformizada aparentemente sem se “mexer” e então pude notar câmeras e repórteres da Record, Globo e outras emissoras... Ai sim pude entender porque tanta gente estava no pátio sem fazer nada!!!! Só burrocratizando mais uma vez o sistema.
Organização se consegue com pouco ou com muito a se fazer, é uma questão de ORGANIZAR quem faz o que e quem coordena o que.

Fomos então para a Defesa Civil... Me desculpem... Antes eu não tivesse ido. Fomos SUPER mal atendidos por uma moça de nome Luciana. Isso depois de termos passado por uns 20 homens fumando cigarro ou falando ao celular como se nada estivesse acontecendo sem ao menos nos perguntar o que estávamos fazendo ali, já que “invadimos o local”. Essa moça não deveria nem ter saído de casa aquele dia... Pelo amor de Deus!!!!!! Com muita má vontade pegou nossos nomes e disse que ligaria. Estamos esperando sentados...

“Quem está necessitado precisa de ajuda pra ontem.” E nas rádios ouvíamos a todo instante apelos por voluntários... bull shit!!!!!!!

Pegamos o carro e fomos por conta própria rodar e procurar algum lugar em que pudéssemos ser úteis aos desabrigados. A noite caiu e não pudemos fazer muita coisa.

No dia seguinte, enchemos 2 carros com donativos e saímos em grupo para as áreas atingidas e ainda sem socorro. Muita gente que ainda estava sem absolutamente nada!!!!!! QUE DIA PRODUTIVO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Pude perceber que MUITA gente estava fazendo a mesma coisa, enchendo seus carros e percorrendo de casa em casa abastecendo famílias inteiras, com o que tinham.

Vimos MUITOS carros com voluntários da Cruz Vermelha TRABALHANDO de verdade, colocando a mão na massa, fazendo chegar aos que precisavam de um tudo.

Em muitos lugares ouvimos relatos de que ninguém havia chegado ainda... E lugares nem tão distantes assim!!!

Amanhã – 17 de janeiro – iremos para a Cruz Vermelha nos oferecer como voluntários; afinal, vimos em nosso trajeto muitos carros, com muitos voluntários levando o que mais as famílias precisam: TUDO!!!!!!

Fica aqui então o meu testemunho e a minha dica é essa: Cruz Vermelha ou nas Igrejas.

Que Deus possa nos amparar e nos dar forças para reerguermos nossa cidade, e que Ele seja nosso guia para que possamos realizar um bom trabalho com dignidade e compaixão.

Sinceramente,

Nina Benedito".

Hoje contamos em nossa cidade apenas com o socorro dos governos estadual (através da presença física das forças policiais civil e militar, do corpo de bombeiros, da defesa civil estadual) e federal (através das forças armadas, polícia federal e guarda nacional), dos vários estados da nossa federação que se solidarizaram com a situação de penúria pela qual estamos passando, principalmente a população carente, além de vários teresopolitanos que, como esta senhora que escreveu este email-desabafo, tem trazido alento para quem perdeu tudo.

Quanto ao socorro das “autoridades” locais...

Desabrigados amontoados no ginásio “Pedrão” – desorganização, falta de coordenação ou despreparo?

4º) Plano de Contingência:

Em qualquer tragédia que se abata sobre uma nação, estado ou cidade – como é o caso de Teresópolis – sempre (eu disse SEMPRE!) existe um Plano de Contingência elaborado e feito para esse tipo de ocasião, ou seja, de catástrofe. Mas o que eu vejo e ouço na mídia é exatamente a inexistência de tal plano aqui em Teresópolis.

Um Plano de Contingência para emergências é complexo por suas características intrínsecas. Por definição: “Planejamento em situações críticas é a ação de visualizar uma situação final desejada e determinar meios efetivos para concretizar esta situação, auxiliando o tomador de decisão em ambientes incertos e limitados pelo tempo.”

Na confecção de um Plano de Contingência duas vertentes tem que ser consideradas. A primeira é a que estabelece o planejamento baseado em hipóteses de emergência específicas, e que determina procedimentos para cada um dos Cenários Acidentais identificados como relevantes em uma Análise Preliminar de Risco. A segunda utiliza o planejamento baseado nas funcionalidades gerais de uma situação de emergência, estabelecendo as responsabilidades das agências públicas, privadas e não governamentais envolvidas na resposta às emergências.

Então o que falhou em Teresópolis? Quase tudo.

O INMET – Instituto Nacional de Meteorologia – avisou e este aviso foi repassado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) por email para as cidades serranas – inclusive Teresópolis – através de um boletim informando que fortes chuvas iriam cair sobre a nossa cidade, 10 horas antes, no mínimo, que esta catástrofe acontecesse e nenhum – repito: NENHUM – bairro, ou região de risco, foi alertado, pois, segundo as autoridades da nossa cidade, que tiveram uma agilidade fenomenal em quantificar o “prejuízo” em mais de R$ 500 milhões em apenas 2 dias para reconstrução da cidade, alegaram que não haveria “tempo hábil” para retirar tantas pessoas. E onde está o Plano de Contingência, tão discursado para as impressas local, nacional e internacional?

Para termos uma ideia do quanto houve omissão das autoridades locais, acesse o endereço a seguir e leia a reportagem de O Globo publicada no dia 15 de janeiro de 2011, cujo título é Documento de 2009 já identificava áreas de risco na Região Serrana do Rio:

http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/15/documento-de-2009-ja-identificava-areas-de-risco-na-regiao-serrana-do-rio-923513302.asp

airro da Granja Florestal – onde está o Plano de Contingência de prevenção de catástrofe de Teresópolis?

EM TEMPO: No município de Areal – com uma população de pouco mais de 12 mil habitantes – não choveu como em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo –, mas o gestor daquele município carente, apesar da destruição material de 80 casas e de ter mais de 1300 desabrigados e desalojados, há três feridos e NÃO TEVE UM ÓBITO SE QUER. Como? A Prefeitura de Areal, município da região serrana do Rio de Janeiro, divulgou um aviso sonoro que pode ter sido o responsável por salvar a vida dos moradores. Ao perceber que o leito dos rios Preto e Piabanha subiria rapidamente, o prefeito Laerte Calil de Freitas gravou uma mensagem que passou em um carro de som pelas ruas na manhã de quarta-feira. Simples, rápido, eficiente e salvador.

PERGUNTO: Por que o mesmo não foi feito em nossa cidade, já que havia um aviso do INPE que chegou a prefeitura 10 horas antes das chuvas? Não seria por falta de carro de som na nossa cidade...

E que Deus nos ajude e nos livre desses maus governantes!

Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme.

(Provérbios 29.2)

Carlos Renato de Castro Souza

crcspi@bol.com.br

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