sábado, 3 de abril de 2010

PARABÉNS NARCISA AMÁLIA - ILUSTRE SANJOANENSE

DIA 03 DE ABRIL - DATA DO NASCIMENTO DE NARCISA AMÁLIA
Narcisa Amália de São João da Barra (nascida em 3 de abril de 1856, falecida em 24 de junho de 1924) foi uma poeta brasileira. Foi a primeira jornalista profissional do Brasil. Movida por forte sensibilidade social, combateu a opressão da mulher, o regime escravista, segundo Sílvia Paixão, “um dos raros nomes femininos que falam de identidade nacional” e busca sua própria identidade “numa poética uterina que imprime o retorno ao lugar de origem”.
Obra mais conhecida: Nebulosas
Fonte: Wikipedia RESIGNAÇÃO No silêncio das noites perfumosas, Quando a vaga chorando beija a praia, Aos trêmulos rutilos das estrelas, Inclino a triste fronte que desmaia. E vejo o perpassar das sombras castas Dos delírios da leda mocidade; Comprimo o coração despedaçado Pela garra cruenta da saudade. Como é doce a lembrança desse tempo Em que o chão da existência era de flores, Quando entoava o múrmur das esferas A copla tentadora dos amores! Eu voava feliz nos ínvios serros Empós das borboletas matizadas... Era tão pura a abóbada do elísio Pendida sobre as veigas rociadas!... Hoje escalda-me os lábios riso insano, É febre o brilho ardente de meus olhos: Minha voz só retumba em ai plangente, Só juncam minha senda agros abrolhos. Mas que importa esta dor que me acabrunha, Que separa-me dos cânticos ruidosos, Se nas asas gentis da poesia Eleva-me a outros mundos mais formosos?!... Do céu azul, da flor, da névoa errante, De fantásticos seres, de perfumes, Criou-me regiões cheias de encanto, Que a luz doura de suaves lumes! No silêncio das noites perfumosas Quando a vaga chorando beija a praia, Ela ensina-me a orar, tímida e crente, Aquece-me a esperança que desmaia. Oh! Bendita esta dor que me acabrunha, Que separa-me dos cânticos ruidosos, De longe vejo as turbas que deliram, E perdem-se em desvios tortuosos!... POR QUE SOU FORTE a Ezequiel Freire Dirás que é falso. Não. É certo. Desço Ao fundo d’alma toda vez que hesito... Cada vez que uma lágrima ou que um grito Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço... E toda assombro, toda amor, confesso, O limiar desse país bendito Cruzo: - aguardam-me as festas do infinito! O horror da vida, deslumbrada, esqueço! É que há dentro vales, céus, alturas, Que o olhar do mundo não macula, a terna Lua, flores, queridas criaturas, E soa em cada moita, em cada gruta, A sinfonia da paixão eterna!... - E eis-me de novo forte para a luta. Resende, 7.9.1886. ================================================== TEXTO EN ESPAÑOL Tradução de ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO PERFIL DE ESCLAVA Cuando entreabro los ojos a la luz que nace, Golpeando las sombras y la pérfida indolencia, Veo tras la discreta transparência Del níveo cortinaje uma criatura. Pupila de gacela, viva y mansa, Con sereno temor, coge la llama. La frente sumergida en palidez... Sonriendo de inocência — Risa que trae angustia o esperanza... He ahí el boceto fugaz de una viva estatua Que — los brazos en cruz — surge en la sombra Silenciosa, atenta, pensativa. ¿Estatua? No, que esta necia cárcel Ha de quebrantar, mísera cautiva, Ese amor de madre que oculta la mujer. Extraído de la obra VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA Goiânia: Editora Oriente, s.d. Página publicada em maio de 2008 por Antonio Lisboa Carvalho de Miranda.
Vida:
1852 - Nasce Narcisa Amália de Campos, a 3 de abril, em São João da Barra, Rio de Janeiro, filha do poeta Jácome de Campos e daprofessora primária Narcisa Inácia de Campos. 1863 - Transfere-se para Resende com a família. 1866 - Casa-se com João Batista da Silveira, artista ambulante, de vida irregular, de quem se separa alguns anos mais tarde. 1872 - Publica seu primeiro e único livro de poesia, Nebulosas, que alcança grande repercussão nos meios literários. São poemas expressivos do Romantismo, que exaltam a natureza e a pátria e relembram a infância. 1874 - Publica Nelúmbia, contos. Prefacia livro de Ezequiel Freire e é elogiada por Machado de Assis: "As flores do campo, volume de versos dado em 1874, tiveram a boa fortuna de trazer um prefácio devido à pena delicada e fina de D.Narcisa Amália, essa jovem e bela poetisa (...)". 1880 - Casa-se novamente, dessa vez com Francisco Cleto da Rocha, também chamado Rocha Padeiro, dono da "Padaria das Famílias", em Resende. Ajuda o marido nos primeiros anos, mas continua a receber os amigos literatos em sua casa. Frequentam seus saraus nomes famosos como Raimundo Correia, Luís Murat, Alfredo Sodré e, inclusive, o Imperador Pedro II, que por ocasião de sua visita a Resende, vai "visitar a sublime padeira, por estar ansioso por lhe provar... do pão espiritual", embora seja a poetisa fervorosa republicana abolicionista. O segundo casamento também não dura muito e Narcisa é forçada a deixar a cidade que considerava sua terra, pressionada por campanha maledicente movida pelo marido enciumado. No Rio de Janeiro, Narcisa Amália dedica-se ao magistério. 1884 - Em 13 de outubro funda um pequeno jornal quinzenal, o Gazetinha, suplemento do Tymburitá que tinha, como subtítulo, "folha dedicada ao belo sexo". Narcisa Amália foi a primeira mulher a se profissionalizar como jornalista, alcançando projeção em todo o Brasil com seus artigos em favor da Abolição da Escravatura, em defesa da mulher e dos oprimidos em geral. 1924 - Morre Narcisa Amália, a 24 de junho, cega e paralítica, sendo seu corpo sepultado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Obras:
- Nebulosas. (Poesia). Rio de Janeiro: Garnier, 1872. - Nelúmbia. (Conto). In: Lux!. Campos, 1. dez. 1874, p. 158-160. - "Duas palavras sobre este livro". Prefácio a Flores do campo, de Ezequiel Freire. - "A mulher no séc. XIX". In: Democratema. Comemorativa ao 26o aniversário da Fundação do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1882, p. 31-5. - Colaboração em jornais e revistas: O Domingo, Astro Resendense, O Espírito Santense, A República, Correio do Brasil, Lábaro Acadêmico, Correio Literário, Almanaque das Senhoras (RJ), O Espírito Santo (ES), Diário de Pernambuco (PE), Lux! (Campos-RJ), O Fluminense (Niterói-RJ), Diário Mercantil (SP), O Friburguense (Friburgo-RJ), Tymburitá (Resende-RJ), O Garatuja (Resende-RJ), A Família (SP), A República (Aracaju-SE).
Bibliografia Sobre a Autora:
ASSIS, Machado de. "A nova geração". In: Crítica Literária. Rio de Janeiro, 1938. BOPP, Itamar. Quatro personagens de Resende. Resende: [s. n.] 1985. BROCA, Brito. Românticos, pré-românticos, ultra-românticos. São Paulo: Polis; Brasília: INL, 1979. CESARIO, Doria. "As intelectuais brasileiras". A Cruzada. Niterói, 1 fev. 1908. COSTA, Afonso. Poetas de outro sexo. Rio de Janeiro: [s.n.] 1930. DANTAS, Mercedes. "A precursora do feminismo no Brasil". Revista da Semana. Rio de Janeiro, 30 mar. 1929. FALCÃO, Rubens. Antologia de poetas fluminenses. Rio de Janeiro: Record, 1968. FLEUSS, Max. Férias. Anthologia de actuaes escriptores brazileiros. Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho editor, 1902, p. 186 e 491. FREIRE, Ezequiel. "Homenagem". Astro Resendense. Resende, 2 fev. 1873. . Livro posthumo. São Paulo: Weisflag Irmãos, 1910, p. 75. . "Narcisa Amália". Diário Mercantil. São Paulo, 16 maio 1886. . "Poesia brasileira". Diário Mercantil. São Paulo, 1 jan. 1887. FREIRE, Moniz. Itinerário da viagem de Sua Majestade Imperial à Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. Austral, 1847. JARDIM, Renato. Reminiscências. Rio de Janeiro: [s. n.] 1946. LINS, Benjamim Franklin de Albuquerque. "Nebulosas de Narcisa Amália". Tymburitá. Resende, 29 ago. 1909. LYGIA [ Georgina Macedo] . "Dois nomes". Imprensa Resendense. Resende, 13 maio 1908. MAIA, João de A. C. Notícias históricas e estatísticas do Município de Resende. Rio de Janeiro: [s. n.] 1891. N., R. "Narcisa Amália". Resendense. Resende, 4 mar. 1880. OSCAR, João. Apontamentos para a história de São João da Barra. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1977. . E os pássaros voaram. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1973. . Introdução à história literária de São João da Barra. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1972. . Narcisa Amália. Vida e poesia. Campos: Lar Cristão, 1994. PAIXÃO, Múcio da. Movimento literário em Campos. Rio de Janeiro: [s. n.] 1924. PAIXÃO, Sylvia P. A fala a menos. A repressão do desejo na poesia feminina. Rio de Janeiro: Numen, 1991. PÓVOA, Pessanha. "Prefácio". In: AMÁLIA, Narcisa. Nebulosas. Rio de Janeiro: Garnier, 1872, p. V-XXI. PRISCO, Francisco. "Narcisa Amália". In: Mundo literário. Rio de Janeiro: 1923. REIS, Antônio Simões dos. Narcisa Amália. Rio de Janeiro: Simões, 1949. ROMERO, Sílvio. "A alegria e a tristeza na literatura". Estudos da literatura contemporânea. Rio de Janeiro: [s. n.] 1885. . História da literatura brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: [s. n.] 1943. S. "Flores do Campo por Ezequiel Freire". Tribunal Liberal, São Paulo: 29 dez. 1876. SILVA, Eliseu G. da. "Narcisa Amália (poetisa)". Correio do Brasil. Rio de Janeiro, 28 mar. 1872. SILVEIRA, Tasso da. "As mulheres poetisas do Brasil". Terra do Sol. Rio de Janeiro, n. 5, maio 1924. SINCERO, João. "As nossas escritoras". Correio Literário. Rio de Janeiro, set. 1890. SODRÉ, Alfredo. "Uma festa intelectual há 50 anos". Tymburitá. Resende, 29 nov. 1925. TEIXEIRA, Múcio. "Memórias dignas de memória". A Imprensa, Rio de Janeiro, 1 mar. 1912. TORRES, Artur A. Poetas de Resende. Niterói: [s. n.] 1949. TORREZÃO, Guiomar. "Narcisa Amália". A Província de São Paulo. São Paulo, 16 nov. 1877. TYL. "Narcisa Amália". Tymburitá. Resende, 26 jul. 1924. . "O Itatiaia". Tymburitá. Resende, 24 e 31 mar. 1923. VEIGA, Luiz F. da. "Narcisa Amália". Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, v. 45, p. 1, 1892. VIDAL, Barros. Precursoras brasileiras. Rio de Janeiro: A Noite, 1952. XAVIER, Francisco C. Poetas redivivos. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1969. e VIEIRA, Waldo. Antologia dos imortais. Rio de Janeiro: FEB, 1983.
Textos:
"Suponho ter sido eu, no Brasil, quem primeiro ergueu a voz clamante contra o estado de ignorância e de abatimento em que jazíamos, em artigos que denominei - ‘A mulher no séc. XIX’ e ‘A emancipação da mulher’" "A essa voz, antes - magoado queixume de vítima em hora de desfalecimento profundo, que alarmante brado de revolta, responderam-me menos delicadamente alguns cavalheiros da imprensa paulista (...), recearam, porventura, que, a um meu aceno, suas esposas abandonassem o pot au feu e, tomando o bordão de peregrinas, marchassem em demanda da terra da emancipação (...)" "Ao exemplo dos banhistas, no mar, ao vir a onda, mergulhei para deixar passar o vagalhão dos protestos (...) Mas... colheu-me de surpresa a nevrose cardíaca, enfraquecendo-me a energia, inutilizando-me absolutamente para as rudes lutas da inteligência, para as pugnas incruentas, mas extenuantes, da imprensa..." [In A Família. Rio de Janeiro, 31 dez. 1889, p. 6.]
Foto : João Oscar ( falecido em 2006)
João Oscar, sanjoanense da terra de Narcisa Amália foi quem mais pesquisou sobre a sua vida. Editou em 1994 a obra "Narcisa Amália. Vida e poesia. Campos: Editora Lar Cristão.
Fez menção da poeta em "Apontamentos para a história de São João da Barra. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1977." , "E os pássaros voaram. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1973.", e "Introdução à história literária de São João da Barra. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1972.", além de diversos ensaios e palestras sobre o tema em questão. JoãoOscar ,se vivo fosse, faria aniversário no próximo dia 06 de abril, mesmo mês de aniversário de Narcisa Amália.

Um comentário:

Eliane F.C.Lima disse...

Caro André,
Fiz hoje - 18-07-2010 - uma postagem em meu blogue "Literatura em vida 2" (http://literaturaemvida2.blogspot.com)sobre Narcisa Amália e fiz um link para este seu blogue. Convido a ir lá. Parabéns por seu blogue.
Eliane F.C.Lima