domingo, 27 de junho de 2010

SÃO JOÃO DA BARRA TEM CIRCUITO JUNINO COM PASSEIO DE TREM MARIA FUMAÇA, QUEIMA DE FOGOS E SANFONADA NOS VAGÕES

Pintura de Mallet, mostrando a antiga estação de trem de São João da Barra, construída pela Leopoldina Railway, em 1896.
Ô TREM BÃO!!! Que o Circuito Junino Sanjonanense, a cada ano, vem se tornando mais forte e difundido na região Norte Fluminense, isso é a mais pura verdade. As constatações estão por aí a divulgarem, para os quatro cantos do país, esta bela festa que dignifica o trabalhador rural e seus costumes. Visitando ontem, 26/06/2010, o SESC Mineiro de Grussaí, com minha família, numa linda noite de lua cheia, pude ver novamente o quanto de positivo que o trade turístico - trabalhando em sintonia - pode trazer, em bônus, para a nossa cidade. Como morador de S. João da Barra, o meu orgulho foi ao mais alto que pudesse imaginar. Tinha gente de tudo quanto era canto prestigiando a festa junina do SESC. Dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, era gente de Cabo Frio, Rio das Ostras, Macaé, Rio de Janeiro, Campos, Itaperuna, Barra de São João como Belo Horizonte e pequenas cidades mineiras, que nem me lembro mais dos nomes. Este blog já havia publicado algumas vezes, matérias sobre os atrativos de SESC Mineiro de Grussaí, entre elas a deste circuito junino que acontece todos os anos, feito pela própria organização da direção do SESC Mineiro. Destaco aqui a minha parabenização à todos os envolvidos no processo, ressaltando as figuras competentes de Vinicius Resende - meu colega de formação em curso de turismo e gerente geral do SESC-Grussaí. Não faltam elogios também para o competente organizador de eventos do SESC Mineiro de Grussaí, Fábio Pedra. Ontem tive a felicidade de encontrar os dois e dizer-lhes o muito obrigado por propiciarem tamanha diversão familiar. Aproveitei para falar com Vinícius Resende - Gerente Geral do SESC Grussaí - que ele está, com esta festa junina, disputando fama com o famoso "Trem do Forró do Nordeste". Ele negou sorrindo, com todo a sua humildade. Quem entra no site de busca do "google" e coloca a procura por "Festa Junina do Sesc de Grussaí" encontra uma série de agências de turismo trabalhando na venda do produto que tem atraído milhares de pessoas à nossa terra sanjoanense. Não bastasse meramente o fato de o SESC Mineiro de Grussaí ser um Centro de Convenções, Turismo e Lazer, conta ainda com uma linha ferroviária - das poucas existentes no Brasil - cujo o roteiro é mágico e contagiante e que é divulgado pelos sites de conservação de ferrovias do país e associações ligadas ao setor. UM BREVE RELATO DA FESTA JUNINA À BORDO EM UM DOS VAGÕES Tudo começa quando você se dirige para a bilheteria da estação de trem do SESC Mineiro de Grussaí e encontra uma enorme fila de pessoas animadas, fila esta, que vai se desmanchando como se fosse a própria fumaça que ao mesmo tempo é expelida, à prestações, pela locomotiva que está aguardando - ainda quietinha - a turminha no final do guard-rail da linha férrea da estação-mãe. A fila da bilheteria é recebida por várias bandinhas de baião e sanfoneiros, geralmente com composição de três pessoas, sendo uma para o bumbo, outra para sonfona e outro para o triângulo. Um funcionário, de megafone, dá as boas vindas aos turistas, fazendo levantar a curiosidade dos mesmos quanto ao passeio de trem, as sanfonadas nos vagões e as guloseimas que estão à espera da degustação do público, lá na estação do arraial, dispostas nas variadas barraquinhas espalhadas por entre as casuarinas do bosque. O ingresso indivudual custa R$15,00 (quinze reais), um preço que vale a pena ser pago se comparado com os atrativos que o turista terá ao ver o trem funcionar com todos aqueles vagões, com os funcionários de cabine, com o maquinista à caráter, com a brigada antincêndio, com a segurança patrimonial, com os sanfoneiros nos vagões e principlamente com o visual que o circuito oferece, ainda mais em noite de lua cheia que é, deveras, rebuscada pela fumaça que sai da chaminé da locomotiva. Sem dúvidas é um passeio bucólico onde o romantismo aflora nos pensamentos de todos. Cheguei com minha família às 18 h 40 min na bilheteria e não havia mais ingressos. As minhas filhas ficaram com lágrimas nos olhos. Eu não conseguia pensar em outro atrativo, que substituísse a diversão pretendida. Tive que comprar ingressos para o horário das 21 h, tamanho o número de pessoas que já aguradava para o próximo horário. Dei muita sorte de ter conseguido os últimos cinco ingressos para o horário das 21 horas! Dei umas voltas nas dependências do SESC e depois voltei para a fila. Não queria me atrasar. Perder novamente o trem, jamais! Entramos, enfim, para as dependências da estação que é repleta de quadros à óleo sobre a ferrovia. Só em olhar os quadros, a emoção já nascia forte para os amantes de ferrovias como eu. A MARIA-FUMAÇA CHAMA O PÚBLICO ! A MARIA-FUMAÇA, ao sair de ré da estação, soltando apitaços e aos trancos, (e não aos barrancos) com muitos barulhos de engrenagens entrepostas, faz com que as pessoas fiquem se perguntando como é que o trem fará curva. A resposta vem quando o mesmo, depois de percorrer uns 400 metros de ré, encontra um entrocamento férreo em que há a troca manual de linhas. As pessoas se assustam com os trancos dos vagões e troca de trilhos, mas tudo fica tranquilo quando a Maria-Fumaça pega força e segue seu rumo. Eu, a esposa e as crianças fomos no primeiro vagão, logo colado à locomotiva. Acredito que a locomotiva deveria estar puxando uns 15 vagões ou mais - não deu para contar tudo. Eu queria mostrar às "pequenas" como é que funciona aquele "dragão de fogo". O som das engrenagens, o cheiro de lenha queimada, um breve calor da caldeira nas costas, o empuxo que se tem no primeiro vagão, tudo isso, são sensações latentes na lembrança da criançada e por que não dizer também dos adultos e dos nostálgicos? De vez em quando, as crianças viam pela porta, o maquinista mexer nas diversas alavancas e vigiar aqueles marcadores de tamanhos variados e com um ponteiro em cada direção - confuso, não?. Eloísa, a minha filha menor, ficou na janela sob o meu colo e via muitas vezes as brasas da locomotiva caírem nas beiras da ferrovia e algumas até voavam para as galhadas das árvores como se fossem vagalumes. Ela tentou contá-las mas não conseguiu. Eram muitas!
Depois de alguns poucos minutos, enchergávamos uma iluminação se sobressaindo por entre as matas de casuarinas e de nozeiras, que nos chamou a atenção. Tratava-se da réplica do Palácio de Taj Mahal, em tamanho quase que original, todo iluminado com tons de azul, branco e amarelo ocre. As pessoas no trem ficaram maravilhadas. Quem olhava o trem fazendo a curva, via os outros vagões no finalda fila à piscarem com as múltiplas câmeras fotográficas que registravam o pomposo palácio. O romantismo começava a ebulir! Depois de mais alguns minutos, tendo passado por uma outra mata de casuarinas, começamos a ver uma iluminação aparecer no horizonte e quanto mais perto se chegava, mais nítidos iam se tornando os traços de um desenho de um provável arraial. O Trem apita, grita, se mostra e vai diminuindo o seu ritimo em pequenos e cadenciados trancos. As pessoas nos vagões vão levantando suas cabeças e os comentários vão se desenrolando em tons baixinhos. De repente, o trem se depara com uma estação toda decorada em temas juninos, no meio do nada, entre as florestas de casuarina e aí, ouvem-se estridentemente as queimas dos fogos anunciando mais uma chegada de passageiros para a estação do "arraiá". Neste momento, frisei meu olhar nos olhos de minhas filhas e pude ver o quanto do brilho e ar de curiosidade elas estavam.. A felicidade transbordava! Se bobeasse, elas pulariam as janelas... Criançada é fogo! Ainda mais em festa junina! Descendo do vagão, a família é recebida pelos funcionários da estação e passa pelo Portal do "Arraiá", todo decorado com temas rurais e balões de São João, que na verdade são lindas luminárias. Muitas bandeirolas em verde e amarelo, por causa da Copa do Mundo, muitos bambus arqueados, muitas barraquinhas de guloseimas, destacando-se o caldo verde com torresminho e cebolinha, o caldo de feijão amigo, o quentão, a sopa de mandioquinha, o pastel gigante, o churrasquinho, o milho assado, a pamonha, o vinho quente, os doces de batata, bolo amélia, bolo de milho, quindins, bombucados etc. Cada praça de alimentação tinha um grande toldo onde as famílias se reuníam. As mesas eram para todos, mas ficavam em formato de banquete para que as famílias se integrassem mais. Uma ideia interessante. Tinha também um mini parquinho de diversões, barracas de pescaria, argolas e outras. De um coreto central, um "cowbói locutor" anunciava as caravanas das cidades que estavam hospedadas no SESC Mineiro de Grussaí e também comandava as apresentações das quadrilhas da comunidade e visitantes, anunciava os shows de forró e sorteios de prendas. De vez em quando, recebia um agrado das barraquinhas, como quentões, vinhos e uns petiscos. Fazia um "jabazinho" para se aumentarem as vendas da galerinha também. Víamos muitos sanjoanenses participarem da festa. Um ótimo sinal de que o SESC-Mineiro de Grussaí entendeu que sem a presença da comunidade, o sucesso de seu evento poderia se tornar incompleto e ilegítimo. Havia uma multidão em tudo quanto era lugar. Só de pistas de forró, acho que tinha visto umas três. Andar no centro do evento era uma ginástica de fila indiana, mas valia a pena!. Tudo foi muito animado. Quando tocou o apito do trem das 22 horas e 50 minutos, resolvemos pegar o trem de volta para casa, ou melhor, para a estação principal. As crianças, sem manifestar qualquer tipo de sono ou cansaço, ainda foram no parquinho que tem em frente à estação de desembarque e tive que retomar o fôlego para mais uma meia hora de brincadeiras. Acordo hoje animado para fazer esta matéria e sem receber sequer um bom dia e beijo de minhas filhas, escutei uma delas falar: -Pai, quando a gente vai andar de trem de novo?? Veja esta crônica de Carlos Sá sobre o trem que já andou por São João da Barra "Barak Obama, presidente eleito dos EUA, seguiu para Washington, para tomar posse no Capitólio, pelo histórico caminho de ferro percorrido pelo ex-presidente Lincoln, em 1861, o que demonstra a importância deste meio de transporte ontem, hoje e sempre. Como Obama, viajei muito no último vagão da velha Maria Fumaça que ligava Atafona a Campos, viagens que não saem de minha memória. O ramal sanjoanense da Leopoldina Railway, extinto como grande parte da rede ferroviária brasileira para ensejar a implantação e desenvolvimento do rodoviarismo no país, saía de Atafona bem cedo, parava em São João da Barra, que contornava por onde hoje se espicha o trecho urbano da BR 356, seguia para a beira-rio, trecho onde hoje é o bairro do Pedregal (ou Nossa Senhora de Fátima), parava em Barcelos, Martins Lage, e nos diversos pontos de leite, onde fazia uma parada rápida para recolher os latões de leite e alguns caixotes de hortifrutigranjeiros e finalizava na Estação do Saco, em Campos, viagem maravilhosa. Lenta, mas de incrível beleza, pelas paisagens das margens do rio Paraíba do Sul, que se descortinavam através de suas janelas de guilhotina. Esse mesmo ramal contribuiu decisivamente para a extinção das atividades de nosso porto pela segurança e preços baixos oferecidos. A meu ver, a política de desmantelamento da rede ferroviária federal, foi um dos maiores erros do governo juscelinista. Países de dimensões continentais como o Brasil e seus companheiros do BRIC – Rússia, Índia e China – assim como os Estados Unidos, não podem prescindir do transporte ferroviário, dadas as grandes distâncias a percorrer. Outros países mantiveram suas redes e ainda as utilizam, simultaneamente com a malha de rodovias. Aqui, por certo, fortes pressões das montadoras de veículos rodoviários, que queriam se instalar no país com total garantia de sucesso, pois não admitem perdas, mesmo que temporárias, provocaram o absurdo desmantelamento da rede ferroviária brasileira. Mas quero falar mesmo é da viagem de trem daqueles tempos, que saudade! Que eu saiba, nunca houve um acidente com vítimas, fatais ou não, em nosso ramal. Todo dia a composição saía de Atafona em direção a Campos, de onde voltava à tarde. Aos domingos havia o famoso “trem passeio”, que trazia os banhistas para curtir a praia de Atafona. O trem trazia diariamente jornais e revistas, e veranistas, gente bonita e alegre, o que provocava o “footing” da garotas e garotos que iam esperar a composição. Ali surgiam flertes que duravam todo o verão ou só aquela tarde. Ou evoluíam para casamentos. A viagem, como tudo na vida, tinha alguns inconvenientes. O sacolejo constante pelo deslizar nos trilhos, a lentidão, as paradas para embarque, desembarque e reabastecimento de água e lenha, que às vezes demoravam mais que o previsto, a fumaça, as fagulhas e o pó de carvão que entravam pelas janelas. Lembro-me que nas viagens para o Rio – a baldeação era feita em Campos, pois dava tempo para os passageiros oriundos de São João da Barra pegarem o expresso para o Rio – os homens vestiam guarda-pós brancos e chapéus, e quando a família viajava junta era comum levar um franguinho assado, arroz e farofa, para comer no caminho. A viagem para o Rio levava no mínimo nove horas. Não havia engarrafamentos e as paradas eram divertidas. Vendedores de doces e salgados corriam pela plataforma anunciando: papa, pamonha, bolinho de arroz, puxa-puxa, alfenim, bombocado, mariola e outras delícias que praticamente deixaram de ser fabricadas. Chovesse ou fizesse sol lá estavam eles com seus tabuleiros e seus gritos esganiçados. Que pena ter acabado. E como faz falta o agudo apito da locomotiva na distância e a voz das crianças gritando, excitadas: lá vem o trem! (SJB, 19/01/2009)" Lá Vem o Trem, Crônica de autoria do grande escritor sanjoanense, Carlos AA. de Sá

Um comentário:

Anônimo disse...

André,
Sou uma paulista, de Catanduva. O trem fez parte de minha vida. E festas juninas também.
Sou engenheira e moro há 20 anos em S.Paulo mas o coração continua do interior.
Lendo o seu texto, retornei ao passado, como quando li o livro "um dia o trem passou por aqui"
http://www.estacoesferroviarias.com.br/venda_livro.htm
Deve ser maravilhosa esta festa.Quem sabe um dia aí estarei.
abraço
Áurea