A JUSTIÇA FOI FEITA
Hoje é um dia muito especial para mim e para os familiares do saudoso sanjoanense, Jorge Batista Meireles. Acabo de receber a notícia de que o Governo brasileiro, através do Ministério da Justiça, reconheceu o seu erro, durante o período obscuro da ditadura militar, de 1964 , por causa das atrocidades cometidas a este conterrâneo, que exerceu função legislativa na nossa Câmara Muncipal, em 1964, pelo PTB. Foi um resgate pós-mortem, da honra de um homem digno e que teve a sua vida política "ceifada" pela perseguição exacerbada do poder constituído em 1964.
UM RESUMO
Recebi, em 2004, a visitação do sanjoanense Jorge Batista Meireles, na biblioteca de meu saudoso pai, João Oscar, e como eu era estagiário de direito (curso que depois não tive mais animosidade de continuar, tendo trancado a faculdade no sétimo período), resolvi pegar a causa e estudar o processo de anistia política, então publicado pelo Governo Lula.
Jorge Batista Meireles, se reuniu comigo por várias vezes na minha casa, sempre na biblioteca da Chácara Dois Irmãos, em São João da Barra, um local acolhedor e que podíamos conversar com calma sobre as atrocidades cometidas pelo regime de ditadura militar. Ouvi muitas vezes os relatos do Jorge Batista, de forma emocionante, onde ele contava as agressões sofridas por ele e seus colegas, com muitas lágrimas nos olhos e com o coração cheio de dor. Eu anotava tudo, criava observações no bloco de anotações, passava as mãos no ombro amigo do saudoso Jorge, quando ele se derramava em prantos, sempre procurando amenizar a sua dor. Jorge sentia muito rancor ao me contar a história de sua vida política, mas era preciso colocar para fora toda aquela angústia e sofrimento, para que eu pudesse fazer das anotações no mais fidedigno documento a ser apresentado no Ministério da Justiça.
Durante as nossas buscas de documentos, do extinto DOPS , junto ao Fórum da Comarca de São João da Barra, conseguimos identificar o Inquérito Policial de 1964, da prisão "arbitrária" de Jorge Batista Meireles! Comemoramos muito, pois era uma peça-chave para desvendar com exatidão o que havia ocorrido com ele. Também conseguimos as cópias das atas de cassação da Câmara Municipal de São João da Barra em que constava a prisão, em plena sessão ,do edil Jorge Batista Meireles! Conseguimos um livro de um autor campista, que mencionava o nome de Jorge Batista Meireles como um dos presos levados para a Comarca de Campos dos Goytacazes e que havia apanhado muito! .
Estva tudo indo muito bem, até que o sanjoanense Jorge Batista Meireles, muito emocionado e vendo que se faria a mais lídima justiça, na ansiedade que explodia o seu coração, teve um enfarto fulminante. E agora? Teríamos que parar com a busca da verdadeira justiça? Não! Me reuni com os seus herdeiros e tomamos fôlego para prosseguir na incansável busca da justiça. Se um homem teve a sua morte na vida política, não o poderia tê-la novamente por causa da desistência da ação face ao Ministério da Justiça!
Fomos em frente. Reuni os documentos, fiz um dossiê, dei entrada na documentação em Brasília. Acompanhei de perto todo o processo. Enviei e-mails, fiz ligações, enfim, nunca desistimos! Depois de longos cinco anos, hoje sabemos que o Governo Brasileiro reconheceu o seu erro. Jorge Batista Meireles foi perseguido, torturado física de psicologicamente, perdeu vários dentes de sua boca nas agressões, perdeu seus direitos políticos e não pode mais ter uma vida normal junto à sociedade sanjoanense, que tinha até medo de conversar com ele, por considerarem-no "comunista".
O Ministério da Justiça enviou à família de Jorge Batista Meireles uma carta com reconhecimento da culpa pelas atrocidades cometidas durante o regime militar e formalizou um pedido de desculpas em nome do Governo e de todos os cidadãos brasileiros.
Fico feliz, mais uma vez. Essa foi uma grande vitória para minha vida também. Agradeço à família do Jorge Batista Meireles pela confiança a mim depositada e agradeço a ti, Jorge Batista Meireles, pela amizade, crescimento e conhecimento a mim proporcionados.
Descanse agora em paz, meu amigo! O resgate foi feito!
Agora você faz parte da história deste Brasil e do município pelas boas ações que fizeste!
Obs. Em respeito à família, não postarei cópias dos documentos que fizeram parte do doloroso processo.
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