quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O TREZE DE AGOSTO DE MATIAS - UM CONTO SANJOANENSE

Matias acordou com o pé esquerdo, na sexta-feira 13 ! Ficou meio acabrunhado porque não achava as suas muletas, que sempre ficavam encostadas à guarda da cama, quando dormia. Matias estava com o pé direito quebrado, por causa de uma dividida dada na pelada de futebol na "Prainha de Ramos", de um encontro pesado com "Janjão" e, não podia pisar no chão. Que situação, hein? Em plena sexta-feira 13 e eu pisar logo cedo com o pé esquerdo? Que merda!, exclamou Matias. Não teve jeito. Matias teve que ficar pulando que nem "saci" dentro do seu quarto, para poder encontrar as malditas muletas. Acabou as encontrando - depois de uns vinte e tantos pulinhos e uns 15 minutos e poucos segundinhos - e lá estavam elas, dentro do armário, fato que lembrou logo de sua mãe porque sempre gostou de tudo arrumado no lugar. Colocou as muletas e seguiu para o seu café. Sentou à mesa, comeu sua tapioca, chupou uma fruta qualquer que saiu do pomar dele e disse um bom dia bem apressado para sua zelosa mãe. Na rua, Matias estava preocupado com o que haviam lhe falado sobre a sexta-feira 13, lá no Bar do Pipita. Será que esse dia é mesmo azarento?, pensava Matias enquanto caminhava na calçada, acompanhado das suas inseparáveis muletas. De repente passa um gato preto saltando de uma nozeira no caminho e arranha um pouco a "cuca" do Matias, que no susto, quase caiu na rua com muletas e tudo. Seu filho da P.!, gritou Matias, querendo desossar o bichano ali mesmo! Passa uma velhinha sem dentes e sorrindo, que parecia ser mendiga e disse: Vái com calma meu filho, o seu dia de surpresas só está começando! Putz! Tô funicado!, é agouro! Falou baixinho, Matias, prosseguindo na calçada. Ao chegar no calçadão Dirceu da Graça Raposo, sem entender muito, estava cercado por umas três senhoras com vestimentas coloridas, cabelos soltos quase até a altura da cintura, uma delas com ouro na dentição e muito ágil no falar e nos movimentos. Foi uma espécie de "cerco" ao Matias. Estavam numa espécie de "minjuada humana" à espera do próximotrouxa. "Deixe eu ler sua mão, menino bonito, deixe eu ler"! Falava a senhora mais idosa. Matias logo viu que eram ciganas e pensou novamente: ciganas na sexta-feira 13?, Tô morto! Tentou sair, mas era carregado de um lado para outro como se fosse um pólen nas patas das abelhas! A cigana mais nova e aparentando ser a mais "jeitosa", começou a falar baixinho no ouvido de Matias: Faço negócio "Bão" em troca das "muiêtas", "qué ou vai rejeitá"? Deus me livre, "cabrunca" dos infernos!, gritou Matias! Segue teu rumo, segue teu rumo! Gritou Matias, puxando para fora as mãos das ciganas, que estavam acampadas por detrás do ginásio de esportes, por uns dias. Saindo dali, depois daquele sufoco danado, Matias estava mais crente de que a sexta-feira 13 dele, estava mesmo carregada. Vou descansar debaixo do pé daquela árvore de sibipiruna que tem do lado da "Banca do Chico". Assim foi feito. Estando sentado num dos bancos da pracinha da "Banca do Chico", Matias, bem relaxado e com as muletas de seu lado, recebe na sua camisa, uma forte cagada de um dos pombos que se escondiam à noite na Casa da Câmara e Cadeia. Pombo lamparão!, gritou para todo mundo ouvir! Acabaram rindo da situação! Ô raça de pássaro "tisgo"! E ainda dão alimentos para estas pestes! resmungou Matias. O "Chico da Banca", com pena do Matias, deu um jornal velho para ele se limpar, mas matias, que estava de blusa branca, se sujou ainda mais. A merda do "Pombo Choco" havia se espalhado no peito de Matias, que estava todo suado por causa do "pega" que havia levado das ciganas no calçadão. Pombo Choco é uma merda, fede muito! Disse "Zé Galinha" que passava de bicicleta na hora. Matias, mesmo fétido, esperou a aglomeração sair da porta da Câmara Municipal de São João da Barra e depois do início da sessão, resolveu subir devagar, por causa das muletas e porque a Câmara não tem acessibilidade para deficientes ainda. Matias chega ao banheiro. Assim foi feito. Se trancou no banheiro e retirou a sua blusa para lavá-la. Naquele momento, lhe deu uma tremenda disenteria, vulgo "caganeira" mesmo (foi a tapioca com a manga que chupou de manhã), tendo se borrado todo, uma porque misturou comidas, outra porque o dia estava quente e outra porque o banheiro era tão apertado que não era apropriado para deficientes físicos. Não deu tempo de jogar as muletas de lado, soltar o cinto e abaixar a calça, foi pouco espaço para muita merda!. São Pedro Trovejou!!! Matias ficou todo "melado" nas pernas! E agora? A sessão da Câmara havia começado e ele já escutava, do banheiro, as "baixarias" dos edis argumentando que a merda já estava fedendo na Câmara! Matias imaginava: não pode ser, eu estou tão podre assim?, Não pode! Vai ser a maior vergonha de minha vida! Todos vão rir de mim! Pelo amor de Deus, não pode ser verdade! Para completar o azar de Matias, a Câmara havia fechado suas portas dias antes por causa de problemas com o MP e os funcionários foram mandados embora, onde a Câmara deixou de pagar a sua conta de água. E o banheiro não tinha papel higiênico, para desepero de Matias. Cagado de pombo, cagado dele mesmo, botou uma das mãos no bolso da calça arriada e viu que havia sido furtado de sua carteira pelos ciganos, com quase todo o seu pagamento do mês. Deu um grito no banheiro da Câmara: Filhos da P., eu sei que tá cheirando à merda aqui, mas levarem meu dinheiro, é sacanagem!!! Os edis e a plenária, que escutaram o ecoar daquela voz suplicante vinda do banheiro, ficaram calados por alguns segundos! Uns revoltosos da plenária, gostando da revolta involuntária de Matias, já começavam a gritar: Tá fedendo à merda! Tá fedendo à merda! Matias, ainda dentro do banheiro e tentado se arrumar, já preocupado com seus documentos, consegue então, sair do banheiro, todo fedido, com cabelos despenteados, cinto desabotoado, calça um pouco arriada, camisa para fora da calça e já com olheiras, diz para o curioso público presente: "homem sem identidade e cagado, precisa se limpar já"! O público presente na plenária da câmara, solícito com as palavras baixinhas, mas ordeiras de Matias, começou a gritar: Limpeza Já, Limpeza Já, Limpeza Já! Matias achou que a súplica era com ele e pensou que iam jogar um jato d`água nele e saiu correndo da Câmara, somente com uma muleta no chão e outra na mão ainda. Procurou as ciganas, mas as mesmas já haviam ido para Grussaí. Tentou ligar de seu celular para o polícia para denunciar o 171, mas a antena local da vivo estava fora do ar. Retornando para casa bem devagar, Matias resolve passar na Igreja São João Batista para fazer umas orações, pois, o clima estava pesado. Entra na igreja e procura sentar num dos bancos próximos ao retábulo da nossa senhora da Glória, e ao sentar, não viu que havia no banco uns alfinetes, espalhados pela beata Flôr, para prenderem um dos mantos da nossa Senhora. Matias ao sentar no banco, deu com a bunda nos alfinetes, jogando as muletas longe, uma para cada lado, tamanha a dor! Num reflexo desesperado, Matias, abriu os braços para o alto e saiu correndo e pulando em direção à entrada da igreja. Um grupo de fiéis, que presenciou a cena, começou a gritar: É milagre , é milagre do dia 13 de agosto!!! Salve o moribundo que voltou a andar!!! Matias nunca mais foi visto em São João da Barra, mas suas muletas estão em algum canto da sala de milagres da igreja matriz. Obs. Este é apenas um conto e a ficção vai longe...

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