domingo, 1 de agosto de 2010

ENGENHEIRO MARCO LYRA - CORRESPONDENTE DO BLOG - FALA DO PROCESSO DE EROSÃO COSTEIRA NO BRASIL

Foto: O Engenheiro Marco Lyra (Camisa branca de manga comprida) - especialista em dinâmica costeira - demonstra o sucesso do Bagwall ao Parlamento Metropolitano de Pernambuco.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A MATÉRIA MAR ADENTRO DA REVISTA VIVER BRASIL Nº 38 Marco Lyra – Engenheiro Civil Especialista em Obras de Defesa Costeira
Prezado André Pinto, parabéns pela publicação da matéria “Mar Adentro” da Revista Viver Brasil nº 38 no seu Blog, sempre levando boa informação para seus internautas, segue abaixo uma síntese da abordagem feita pela matéria e algumas considerações que podem ajudar a esclarecer alguns pontos sobre o assunto.
O pescador Serafim Alves Barreto, fez um relato muito apropriado sobre o que ocorreu nos últimos 44 anos de erosão costeira na praia de Atafona; O gerente da área costeira e marinha do MMA Alberto Costa Lopes alerta que o avanço do mar ameaça ecossistemas, pessoas, atividades econômicas e cadeias produtivas, investimentos em prédios e infra-estruturas; O coordenador da COMDEC de São João da Barra Felício Medeiros Valiengo, informa que a dificuldade da retirada da população local para outras áreas é cultural, e compara, é como retirar a população de Olinda; O professor da UERJ Gilberto Pessanha Ribeiro, afirma que o cenário é agravante; O morador de Marataízes Luiz Manoel da Silva, tem razão quando diz que as obras de defesa costeira construídas reduziram o pânico da população, entretanto, há dúvidas com relação a eficácia dessas obras no controle da erosão costeira; A bióloga Marinez Scherer está completamente certa quando diz que nossa costa não é planejada, não se leva em consideração a fragilidade do ecossistema costeiro, e que, tanto em Marataízes quanto em Conceição da Barra no Espírito Santo, qualquer muro de pedra que impeça o movimento da areia, sua dinâmica natural pode prejudicar as praias mais abaixo; O diretor geral do DER – ES Eduardo Mannato, não respondeu porque a solução clássica de reposição de areias nas praias sujeitas a erosão não parece sustentável.
Há mais de seis anos não se escreve uma matéria tão apropriada e de uma forma tão abrangente na abordagem da erosão costeira em áreas urbanas. Parabéns a redação da Revista Viver Brasil pela matéria de tamanha relevância para população brasileira, que segundo dados disponibilizados na própria matéria, 25% da população do Brasil reside no litoral.
O ambiente litorâneo é um sistema dinâmico não-linear, onde as implicações de seus integrantes individualmente são aleatórias e não previsíveis. Estes sistemas evoluem no tempo e no espaço, com um comportamento desequilibrado e aperiódico, onde seu estado futuro é extremamente dependente de seu estado atual, e pode ser mudado radicalmente a partir de mudanças no presente. Em regra, é a costa o obstáculo sobre o qual a onda acaba por dissipar a totalidade da sua energia, num processo extremamente complexo, genericamente designado por rebentação. Os ventos são os grandes responsáveis pela dinâmica costeira, seu papel não se restringe a originar ondas, e por conseqüência, as correntes litorâneas. As ondas e as correntes marítimas transportam grandes quantidades de grãos de areia que são parcialmente depositados na praia. A areia acumulada e exposta ao ar, após seca, é transportada por ventos dominantes para locais mais elevados da praia. Grandes quantidades de areia se deslocam ao longo das linhas de costa. Já reparou nas formas do litoral? Será que existem ilhas quadradas? A modelagem da linha de costa deve-se a um conjunto de forças complexas que atuam no ambiente costeiro, formando o padrão existente. Observando-se o que está ocorrendo nas praias de Florianópolis, verifica-se que a situação é caótica. É preciso ter o cuidado para não transformar um desastre ambiental em crime ambiental, jogando pedras na praia. É necessário implantar o Zoneamento Econômico e Ecológico Costeiro, em todos os municípios litorâneos, para que a partir da determinação dessas áreas, inclusive incluindo-as nos respectivos planos diretores das cidades, sejam elaborados planos de gerenciamento costeiro integrados, como instrumento para garantir o crescimento sustentável do litoral brasileiro. O Projeto Orla é o ponto de partida para iniciar esse processo de gestão. É importante observar na escolha da alternativa a ser utilizada para obra de defesa costeira, os seguintes critérios: A obra não deve interferir na dinâmica sedimentar, ser resistente e durável, conter o avanço do mar, dissipar a energia do trem de ondas, facilitar o acesso da população a praia recreativa, harmonizar a obra com o ambiente de forma a torná-la menos impactante, não transferir o processo erosivo para áreas adjacentes, promover a recuperação do perfil praial, e ter baixo custo de manutenção. Em Alagoas, foram construídos três dissipadores de energia do tipo barra mar “Bagwall”, cujo sucesso resultou em benefícios ambientais obtidos no controle da erosão marinha. As três obras foram realizadas em condições geológicas, morfológicas, geográficas e hidro- dinâmicas completamente distintas, e apresentaram o mesmo resultado final: Contenção do avanço do mar sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes; Recomposição do perfil de praia com engorda natural no local da intervenção; Facilitação do acesso à praia recreativa da população; Manutenção da obra com custo muito baixo.
É de fundamental importância observar que nos locais onde o Bagwall foi construído, antes havia erosão, após sua construção passa a ter a engorda natural com tendência ao equilíbrio do perfil da linha de costa.
Isto induz a observação de que o processo dissipativo é tido como fonte de ordem em um sistema caótico como o das praias e zonas costeiras. As coincidências constantes nos três casos indicam ser fundamental expandir-se a experiência, inclusive utilizando-as em outras regiões.

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