segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CRÍTICA TEATRAL - COM TODAS AS PALAVRAS

Foto: As atrizes Ana Carolina Berto e Raquel Cunha, no palco dos simétricos e misteriosos "puffs" confidentes. Crédito da foto: Luan Abreu - Designer Gráfico sanjoanense

COM TODAS AS PALAVRAS...

Não há críticas, há elogios!

* Andre Pinto

Fui, orgulhosamente, na pré-estreia do teatro musical "Com Todas as Palavras", neste domingo, no Cine Teatro São João, com minha esposa Maysa, que também tem nome de inesquecível cantora - e que já virou até mini série da Rede Globo. Antes mesmo da sessão, já estávamos ansiosos para entrarmos no clima da apresentação que iríamos ver, tão esperada por nós, podemos dizer assim.

Já na recepção do centenário Teatro da cidade, o clima de romantismo começava a ser desvendado através de um lindo banner - com destaque em vermelho paixão - estirado acima do vão central da entrada do anfiteatro com as imagens cenográficas das duas jovens atrizes sanjoanenses, Ana Carolina Berto e Raquel Cunha, em pleno momento - imortalizado nas lentes de Luan Abreu - de delírios e devaneios apaixonados, com os corações latentes tão qual uma represa que se rompe e inunda tudo e todos!

Tomaram-se uns cafészinhos aromatizados com canela, bem arrumados numa mesa da entrada do Cine Teatro. Do sabor, disseram ser afrodizíaco. Realmente funciona! Havia esquentado ainda mais os nossos corações. Também serviram umas balinhas de canela, para deixarem os casais com aquele hálitozinho de "coala - que só come folhas de eucalipto", prontos para um apaixonado beijo, no escurinho do cinema. Tudo bem pensado!

Ah!, as cadeiras clássicas de forro de palhão, na recepção, também pareciam estar mais confortáveis ontem à noite, para os convidados especiais da pré-estreia. Uma iluminação à meia luz dava o tom do ambiente nostálgico e confidente. As pessoas iam chegando aos sussurros. Os casais ficaram espalhados nas poltronas "do meio para o fim", para terem maior visão da peça, ou para serem menos vistos.

Toca-se a campanhia. apagam-se as luzes. Jaz o completo silêncio. Abrem-se as cortinas, vagarosamente. Começa o teatro musical. A sensação, em princípio, era a de estar num estúdio da antiga Rádio Nacional do Rio de Janeiro. De um lado do palco uma bela flautista, de outro um competente violonista, no centro do palco, as musas! Quão musas quanto divas! Que vozes! Que dueto, que duelo! Ora se completavam, ora se enfrentavam em timbres de vozes marcantes! O público delirou!

O cenário, tudo de imaginativo. A sensibilidade das cores preta e branca, tanto dos vestidos das musas quanto dos módulos (puffs quadrados), ora se sobressaíam , ora se escondiam no jogo sagaz da iluminação da competente empresa sanjoanense, Telaviva. As várias arrumações dos módulos (puffs) de palco feitas pelas atrizes Ana Carolina Berto e Raquel Cunha, imitavam, com perfeito simbolismo e simetria, as turbulências, experiências, sentimentos, emoções, êxitos e fracassos das vidas amorosas das duas personagens, relatadas sem cortes ou censuras! Muito inteligente mesmo! Nem se falam, das cartas lidas na escrivaninha, no escurinho secreto do quarto!

As duas faces do branco e preto . Uma passional, romântica, melancólica, sonhadora, iludida, nostálgica. A outra, humorista, realista, sem vergonha, sacana, audaciosa e acima de tudo, para frente do seu tempo! O Preto instiga: - Para quê escrever nas pedras se podemos escrever nas areias? O Branco Reposnde: - Façamos nossas escolhas sejam quais forem, mas nos arrependamos depois!

Com poses bem marcantes e frases filosóficas, desde gestos de cantoras de sucesso até posições esculturais de pensadores da antiga Grécia, a desenvoltura das musas do "moderno Olimpo" eram delineadas pelos flashes de luzes e flashes de pensamentos, ora claros, ora obscuros. Faziam parte do jogo da vida, claro!

O texto de Silvano Motta - meu colega de Curso de Turismo do IFF - foi envolvente, maduro, cativante, triste, marcante, feliz, sacana e em alguns momentos até despertador do mais puro libido, ao estilo mesmo do Nelson Rodrigues - Cafajeste!. Era proibido reprimir sentimentos! Tabus e preconceitos, nem pensar! Silvano Motta, com o seu texto, mostrou-se um apaixonado! Um apaixonado realista! - Ele puxa o tapete, te tomba, mas ao mesmo tempo te dá o antídoto, o remédio que lhe tira a dor da queda! você chora e sorri na velocidade de um avião à jato! Você vive a cena com as atrizes!

As taças de vinho branco refletiam em cena os brilhos das jovens atrizes, que degustavam, em pequenas doses homeopáticas, o mais doce licor de um amor achado numa noitada e o mais puro veneno da paixão não compreendida!. O preto e o branco não são por acaso do destino. o Branco traduz a inocência, esperança, amor puro. O preto é o amor sacana, de tirar proveito, de colocar dúvidas no relacionamento. As vozes, se fossem vistas, seriam alvi-negras, assim como um chocolate amargo recebe uma calda de chocolate açucarado - ao leite, e, se complementam num delicioso sabor de emoções!

As músicas tocadas ao som da mágica flauta de Rafaela Carvalho, levaram os presentes ao mais nostálgico dos encantamentos, tal qual um indiano, através da hipnose, conquista a sua naja venenosa!. O violão, trazia um som de fundo nos ápices dos diálogos mais fervorosos e parecia acompanhar os batimentos dos corações palpitantes da cena, através do músico J.G., um discípulo da boa música, um bossa-nova de primeira!

Em momentos de grande frisson no "palco das ilusões", contradições e prazeres revividos, por imensa coincidência, lá da rua, soltaram fogos! Talvez fossem os corações das atrizes apaixonadas que estavam em pleno momento de "pirofagia romântica", acreditaram os presentes ao espetáculo vermelho paixão! Tudo deu certo mesmo!

Saímos anestesiados da peça. Um relax só! Quem não viu ainda, terá a chance de retomar aquele romantismo perdido, reaquecendo por sua vez, aquele "coração fornalha" que só precisa de uma fagulha para incendiar aquele refúgio íntimo e implícito de amor e paixão, com todas as palavras...

*Andre Pinto - Já foi professor do Curso Técnico de Formação de Atores (SENAC) em São João da Barra, na disciplina de Meio Ambiente e participou de várias peças teatrais no município de São João da Barra .

Obs. Um parabéns especial às famílias Berto e Cunha, por serem berços de grande talentos de nossa querida São João da Barra!.

Elenco:

Ana Carolina Berto

Raquel Cunha

Violão: J.G.

Flauta: Rafaela Carvalho

Ficha Técnica

Direção/ Ambientação/Texto: Silvano Motta

Direção Musical: Antônio Carlos Dias

Arranjo: Pedrosa Barrozo

Figurino: Carol Lobato

Costura: Marizete Motta

Maquiagem: Suellen Sena

Fotos / Vídeos: Luan Abreu e Francielle França

Design Gráfico: Ana Carolina Berto e Vito Diniz

Design de Luz: Gleyton Rodrigues

Iluminação/Som: Telaviva

Equipe técnica Espetáculo:

Apoio: Ana Lena Oliveira, Artur Júnior Almeida, Julia Albinante, Mayck Nyckson Ribeiro e Thayná Freitas

Bilheteria / Revisão de texto: Jurema vieira

Cenotécnica / Serviços Gerais: Eduardo Lopes

Coordenadoria de Palco / Camarins: Carolina Carvalho

Coordenação de som/Luz: Rodolfo amaral

Captação de apoio: Saullo Oliveira

Executivo: douglas soares, Jhonatan Martins e Paola Martinez

Produção: A.C.T "Nós na Rua".

4 comentários:

Djhonatan Box's disse...

parabéns pelo texto!
parabéns as duas familias, fico feliz em ver sanjoanenses com tantos talentos.

Djhonatan Neves

Pascoal Alves Berto disse...

Parabéns André Pinto. Você realmente sabe expressar através das palavras as suas idéias. Demostra que é um sanjoanense que valoriza a cultura e os talentos de São João da Barra. Parabéns também as atrizes Ana Carolina e Raquel e todo elenco. Estamos muito orgulhosos.

Luan Abreu disse...

Nossa! Acho que essa simples palavra resume suas palavras, nossa!
Parabéns você, pelo texto de belas palavras, me arrancou suspiros e tenho certeza que instigou a muitos a ira assistir... Obrigado.

Ana Carolina disse...

André, fiquei verdadeiramente emocionada com o seu relato! Estou profundamente feliz com os resultados. Graças a Deus, nosso Senhor! Parabéns pelo seu talento de escritor. Você escreve maravilhosamente bem! E Obrigada! =)