sábado, 13 de setembro de 2008

O PORTO DO AÇU E RECLUS NÃO SE COMBINAM

E RECLUS ERROU FEIO NO PORTO SANJOANENSE!!! QUEM FOI JEAN JAQUES ELISÉE RECLUS? Jean Jaques Elisée Reclus foi um geógrafo francês que viveu entre 1830 e 1905. escreveu várias obras de importância como “A Terra e a Nova Geografia Universal”, em 19 volumes, tendo sido considerado um dos mais ilustres geógrafos do século retrasado. O Jornal “A Evolução”, no entanto, fez menção, apenas, ao seu trabalho “Estados Unidos do Brasil”, de onde se extraíram as referências a São João da Barra. Data esta sua obra de 1899, quando andou pelo Brasil e foi traduzida pelo Barão de Ramiz Galvão que a enriqueceu com ludiciosas notas. À primeira vista, São João da Barra surge no texto, esporadicamente; Na realidade, porém, é objeto de segura observação. Estudando a Bacia do Paraíba do Sul, e focalizando a cidade de Campos, diz ,à página 258: “A cidade de Campos, situada na margem meridional do Paraíba, a uns 60 quilômetros do oceano, na região dos antigos Guaitacazes, não deve sua existência ao capricho, e, por isso, teve desenvolvimento rápido. Colocada em uma planície de extrema fertilidade, cabeça de navegação fluvial e abaixo de todos os afluentes, não longe de Cabo de São Tomé que é uma das maiores saliências da costa brasileira, Campos ocupa um sítio indicado para a ereção de uma grande cidade. Fundaram-se ali os entrepostos para o abastecimento do vale e para recepção de produtos”... É, como se vê, uma síntese magistral da geografia humana da região goitacá; e, arrematando sua observação, ilustra-a com o seguinte: “A indústria local, que é a do açúcar está centralizada em algumas fábricas ou engenhos importantes, pertencentes, uns a particulares, outros a companhias garantidas pelo Estado e que moem por ano 50 ou 60.000 toneladas de cana. O mais importante deles, o de Quissamã, possui uma vasta extensão de terrenos ao sul da Lagoa Feia”. Esse tópico dá-nos a idéia do volume de produção da época, fundamental para entendermos sua afirmativa posterior e o ensinamento que da mesma devemos tirar: “Para seu comércio exterior, Campos só tem maus portos; SÃO JOÃO DA BARRA, situada perto da foz do Paraíba, e muito mais ao sul, Imbetida (Macaé) – cidade que guarda a embocadura do rio Macaé e que se comunica com Campos por um canal contínuo de 90 quilômetros de comprimento”. Acrescenta estes dados estatísticos: “Movimento comercial de Macaé em 1892 – 200.000 toneladas. Exportação do açúcar de Campos em 1892 – 10.858 toneladas. (180.975 sacos).” É uma afirmativa, e uma tese. Pode-se discuti-la, e há de ferir umas tantas suscetibilidades. Chamar o Porto de São joão da Barra de mau, não lisongeia, positivamente, o nosso bairrismo. Mas, vamos adiante, e encontraremos o elemento que permitiu ao ilustre geógrafo, formar essa convicção categórica. Depois de descrever, a largos traços, o curso do Paraíba, até o que chama “A garganta de São Fidelis”, conclui, (página 248): “Ao entrar neste desfiladeiro, o Paraíba está só a 70 metros sobre o nível do mar; depois dele é navegável, e serpenteia entre as planícies de aluvião até a zona pantanosa do delta. As terras arrastadas pelas águas barrentas da corrente depõem-se no mar formando uma saliência de forma triangular e extensos bancos de areia que muitas vezes se deslocam durante as inundações e tempestades; só as embarcações de 2 metros podem passar na barra”. Eis, aí a chave do problema, da qual, uma análise objetiva há de permitir colher a explicação da decadência de nosso porto. Para consegui-lo, teremos de fazê-lo em dois lances. 1º Examinar a afirmação categórica de que São João da Barra é um “mau porto”; 2º Até que ponto, como, sendo um “mau porto” pôde, contudo, progredir e ser um dos principais portos brasileiros, no 3º quartel do século passado. Desde já, é necessário convir que RECLUS foi rigorosamente honesto. Viajando através do Brasil, o fez seduzido pelo que possuímos de grandioso e notável do ponto de vista humano-geográfico. Não houve, de sua parte, a preocupação de agradar, ou, desagradar a quem quer que fosse; pretendendo fazer obra científica, proclamou o que lhe pareceu verdade. E, por mais que isso possa melindrar certos grupos de opnião, parece-nos urgente, o quanto antes, despertarmos da inconsciência em que temos vivido, impedindo enxergar certas realidades, em obediência a um sentimentalismo piegas – um falso e prejudicial bairrismo, - para que, afinal, reconhecendo nossos defeitos e deficiências, aprendamos, por outro lado, a ressaltar, as nossas verdadeiras virtudes e possibilidades, rendendo-lhes as nossas homenagens, ou pondo-as a serviço dos legítimos interesses de nossa coletividade. De qualquer maneira é forçoso concluir, desde logo que, se considerarmos MAU o nosso porto, logicamente, se faz o maior dos elogios ao nosso povo que, à custa de ingentes e porfiladas labutas, conseguiu transformar um porto considerado MAU, num dos mais notáveis e movimentados do país, em certa época. Tentaremos, pois, á base de um frio raciocínio, verificar, sopesando, o valor daquilo que temos, sua importância econômica, sua possibilidade, para que livres da hipnose saudosista, possamos forjar uma nova mentalidade. Se nossos antepassados foram capazes, em tempos idos, de construir aqui, uma obra grandiosa – época de maior atraso que a atual, por que, não poderemos, nós, os moços de hoje, retomar o seu caminho interrompido e empreender a patriótica missão restauradora que nos espera? Estudemos e trabalhemos pois. Rio 08 de agosto de 1948. Jornal “A Evolução” 22 de agosto de 1948 n.º 08. São João da Barra Comentário de André Pinto Com todos os problemas vivenciados pela decadência da navegação durante e pós-período republicano, São João da Barra ainda assim buscou soluções para a reativação do porto fluvial, ainda na primeira metade do Século XX, mas que foi em vão. Hoje, a justiça está sendo feita com a instalação do Porto marítimo do Açu, que levará o nome de São João da Barra para o mundo mais uma vez. Essa foi uma doce vingança para saborear ao lado das obras de RECLUS, que no seu tempo desdenhou de nosso porto fluvial. Respeito seu trabalho sobre o porto fluvial de São João da Barra, mas... que pena ele não viveu mais para ver esta transformação para um dos melhores portos exportadores de minério do mundo!!!

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